Uma das teorias mais aceitas sobre a extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos diz respeito a um meteoro que atingiu a Terra na região onde hoje situa-se o México. O impacto grandioso fez subir nuvens de poeira ao céu, as quais teriam impedido a incidência dos raios solares na superfície terrestre. No médio prazo, plantas que dependiam deles para sobreviver sucumbiram; animais herbívoros que dependiam das plantas também desapareceram, e a partir daí, toda a cadeia alimentar do dinossauro entrou em declínio até que o próprio gigante não resistiu e desapareceu por completo da Terra como espécie viva.

Saber se essa teoria é mais do que uma teoria não é tão simples. Para escrever a história de eventos que ocorreram cronologicamente tão distantes de nossos dias requer informação conjugada que culmine em provas irrefutáveis. Embora muitos pesquisadores tentem e muito material arqueológico exista, nada garante nenhuma teoria até o momento.

O outro assassino

Há alguns anos Raymond D. Rogers e David W. Krause publicaram um artigo que levanta a hipótese de haver mais de um algoz dos gigantes terrestres, sem contudo, refutar a teoria do meteoro.

Raymond Rogers é professor associado e chefe do Departamento de Geologia do Macalaster College e David Krause é professor emérito do Departamento de Ciências Anatômicas da Universidade Stony Brook, ambos nos EUA.

As pistas

Posto a dúvida, Rogers e Krause arregaçaram as mangas e iniciaram um estudo aprofundado dos restos mortais movidos de Madagascar para os Estados Unidos. Munidos da alta tecnologia, reuniram provas e evidências que os levaram a formular uma teoria sobre a morte massiva daqueles dinossauros e sobre a existência de um assassino pré-meteoro.

O primeiro passo do estudo foi determinar a data aproximada da extinção. Através da profundidade das escavações, das rochas e sedimentos que envolviam os esqueletos, e de restos de microorganismos unicelulares, chegou-se à conclusão de que as mortes ocorreram por volta de 70 milhões de anos atrás, portanto, antes do evento que extinguiu os dinossauros em escala global.

O segundo passo foi determinar se os dinossauros morreram num curto, médio ou longo espaço de tempo, e se foram queimados, quebrados ou mordidos. Através do estudo do processo de fossilização ficou claro que os animais não morreram todos de uma única vez, mas sim, ao longo de semanas ou até meses. Alguns estavam com as carcaças praticamente intactas e outras completamente espalhadas.

Um outro ponto importante da investigação referia-se ao cenário do crime. Dados como o clima e situação geológica do local ajudam a determinar qual é a contribuição dos fatores naturais num episódio como esse.

A análise final

De posse de uma grande gama de informações, Rogers e Krause se debruçaram numa reflexão profunda sobre o acontecimento, ora descartando, ora considerando hipóteses diversas. Por exemplo, descartaram a existência de predadores como os próprios dinossauros e crocodilos, já que eles tinham um alto grau de seleção de suas presas; descartaram uma epidemia devido ao largo período em que as mortes ocorreram; e descartaram incidentes naturais como terremotos, inundações ou incêndios, já que não havia nenhuma evidência no terreno ao redor e nem tampouco nos esqueletos.

Era certo que o assassino não escolhia suas vítimas, pois junto aos dinossauros foram encontrados restos de tartaruga, peixes, pássaros e mamíferos. Também era certo que o assassino sempre cometia os seus crimes perto do rio no qual a vala comum foi encontrada. Rogers e Krause começaram então a aventar a hipótese de um fenômeno natural, severo, mas não fulminante, como principal causador da mortandade. Esse fenômeno, muito comum nos dias atuais, principalmente para os brasileiros do sertão nordestino, seria a seca. Ela levaria a outras causas como a desidratação, insolação, desnutrição e até mesmo intoxicação pela água contaminada devido ao acúmulo de corpos de animais sem vida. Quanto mais animais se aproximavam do rio como última esperança de vida, mais caminhavam por túmulo adentro. Em questão de meses, o leito seco do rio passou a abrigar uma vala comum de animais mortos, sucumbidos por um simples viés da natureza. Esse talvez tenha sido um dos primeiros golpes para a extinção dos dinossauros. Cinco milhões de anos depois viria o golpe final, a queda do meteoro.

(Colaboração de Wagner Zaparoli, doutor em Ciências pela USP, professor universitário e consultor em tecnologia da informação).

Publicado na edição 10.835, quarta, quinta e sexta-feira, 10, 11 e 12 de abril de 2024