“Tem sido construídos ultimamente, nesta cidade, numerosíssimos prédios, dentre os quais muitos palacetes e sobrados. Agora, por exemplo, além de outros, estão sendo edificados: um palacete à rua Antônio Alves de Toledo, para o snr. Eugênio Linardi; um sobrado à praça Rio Branco, para o snr. Baptista Cassiano; um sobrado à rua 15 de Novembro, para o snr. Gilberto Graziadei; um sobrado à rua S. João para o snr. Joaquim de Sá Ferreira e um sobrado à rua Prudente de Moraes, para o snr. Benedicto A. Trama, onde deverá funccionar a Academia Comerccial de Bebedouro.”
Com esta pequena nota publicada na edição de 17 de março de 1929, a Gazeta de Bebedouro informava a seus leitores sobre algumas das principais construções que ocorriam na cidade, no início daquele ano. Vivia-se ainda o auge da economia cafeeira, que gerou imensos recursos para a expansão urbana local.
Principalmente, a partir da instalação da linha férrea em 1902, houve o erguimento de diversos edifícios públicos e institucionais, como a Câmara Municipal (1911), Cadeia e Fórum (1912), Grupo Escolar (1912), Santa Casa (1911 a 1914) e Igreja Matriz (1911 a 1926), além de agências bancárias e estabelecimentos comerciais.
No mesmo período, ocorreu também a edificação de diversas residências, algumas de estilo arquitetônico eclético e de grandes proporções, condizentes com o contexto econômico da época.
O lançamento, construção e inauguração dos edifícios mais suntuosos geralmente eram divulgados pela imprensa, que publicava notas enaltecedoras, identificando-os como evidências do progresso vivenciado pelo município.
Em março de 1926, por exemplo, o Correio Paulistano publicou uma nota informando que “continua a febre de construcção nesta cidade […] vão ser construídos dois prédios na praça Valêncio de Barros, pelo grande proprietário sr. Nazário Finocchio, e um outro à rua Tobias Lima, pelo capitalista sr. Saturnino de Toledo.” Em dezembro do ano seguinte, o mesmo jornal destacava: “presentemente se acham em construção nesta cidade, em sua zona urbana, 90 prédios, nesse número alguns palacetes e vários “bungalows”.
Eventualmente, algumas publicações feitas na imprensa da capital eram acompanhadas de fotografias, como a que foi inserida na revista Excelsior do Rio de Janeiro, em 1929, acompanhada da seguinte legenda: “Um aspecto exterior da confortável casa de residência do Sr. Salvador de Rosis, em Bebedouro”.
Na imprensa bebedourense, a construção do “Palacete Nascimento” teve grande destaque, sendo que o Jornal de Bebedouro noticiou sobre a sua inauguração, na edição de 11 de setembro, sob o título “Sumptuoso palacete – sua inauguração em 1921”, parabenizando a iniciativa de seu construtor:
“Como um atestado eloquente do seu ânimo empreendedor e progressista, que deve servir de estímulo aos demais homens dinheirosos da terra, o sr. Manoel do Nascimento, conhecido fazendeiro e capitalista, entendeu dotar Bebedouro com um prédio, digno de seu estado atual de desenvolvimento, material e moral.
E se assim projetou, assim o fez, escolhendo para local uma sua propriedade de construção antiga, sita à Praça Conrado Caldeira, esquina da rua São Sebastião, onde havia o terreno indispensável para o fim proposto. Incumbiu-se de construção da qual saiu-se perfeitamente bem, o conhecido empreiteiro sr. José Guedes, que, com razão, pode ufanar-se de sua obra majestosa.”
A reportagem destacava também alguns detalhes sobre a festa de inauguração: “Acorrendo ao convite, ao novo palacete do sr. Manoel do Nascimento, compareceu o que Bebedouro tem de mais representativo nas suas altas camadas sociais. […] Após terem percorrido todas as muitas e vastas dependências do edifício, todas guarnecidas de um mobiliário luxuoso, foram os convidados conduzidos à mesa na sala das refeições, onde lhes foram servidos abundantes doces finos, com uma rega não menos abundante de champagne.”
No entanto, esse frenesi de construções foi seriamente abalado pela crise internacional iniciada no final de 1929 e que, gradativamente, atingiu as finanças dos munícipes. Neste contexto, merece destaque a construção daquele que talvez melhor represente o estilo arquitetônico do período, o suntuoso “Palacete Zaccarelli” que, por sua relevância, será abordado em outro artigo.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)
Publicado na edição 10.761, sábado a quarta-feira, 3 a 7 de junho de 2023