Não existe a menor dúvida de que o aquecimento global é causado pela excessiva emissão de gases tóxicos, os causadores do efeito-estufa. E, por consequência, não é mais lícito duvidar de que as mudanças climáticas decorrem dessa insensatez.
Por isso é que espanta a insistência do governo brasileiro em prospectar petróleo na foz do Amazonas. Não é necessário investir em consistentes estudos, em gastar dinheiro com a elaboração de AAAS – Avaliação Ambiental de Área Sedimentar, para se chegar à conclusão de que explorar o combustível fóssil que está envenenando a humanidade é um contrassenso. É algo na contramão da direção que um país considerado “potência verde”, promissora esperança para a descarbonização do mundo deveria fazer.
Imagino a sensação de Rodrigo Agostinho, que conheci como Prefeito de Bauru e cuja boa intenção reconheço, agora na condição de Diretor do Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais, ao ter de aceitar a insistência nessa proposta equivocada.
O Ibama já negou à Petrobrás a licença para pesquisar petróleo no bloco 59 da Bacia da Foz do Amazonas. A estatal brasileira deveria é mergulhar na cultura ESG, contribuir para a salvação da natureza, gravemente enferma e continuamente ameaçada pela conjugação de forças entre criminalidade organizada e negacionismo aparentemente lícito.
Tanto a “grife verde”, Marina Silva, como o Ibama, estão no centro das pressões dos interessados em conspurcar as águas, em promover potenciais acidentes ambientais, em continuar a mostrar que a transição energética só reside na cabeça de nefelibatas, dos ingênuos que têm a intenção de salvar o futuro da humanidade. Mas que, para o governo, o que interessa mesmo é perseverar na trilha da exploração do malefício que deveria ser substituído por eletricidade, por energia eólica, por energia solar e por alternativas não letais.
O que o Brasil dirá na COP 30, em Belém? Que há um discurso retórico, estéril e contraditório e que a tutela ambiental é uma promessa vã? Onde foi parar a consciência ecológica e a lucidez tupiniquim?
(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo).
Publicado na edição 10.853, de sábado a terça-feira, 29 e 30 de junho, 1º e 2 de julho de 2024