Pré-eclâmpsia sob controle

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A hipertensão arterial em época de gestação continua sendo uma grande fonte de preocupação para a saúde da população. Os números falam por si próprios: são quase 700 mortes de mulheres todo ano no país, ou seja, quase duas por dia. Para cada uma delas, outras 10 sobrevivem, muitas vezes com grandes sequelas.
A pré-eclampsia é o nome dado ao quadro inicial de hipertensão para as mulheres grávidas a partir da segunda metade do período gestacional que causa, entre outros sintomas, inchaço principalmente nos membros inferiores e aumento exagerado do peso corpóreo. Esse quadro pode degenerar-se evoluindo para a eclampsia, a qual se caracteriza pelas convulsões, pelo sangramento vaginal e coma. A morte pode surgir se o organismo não for controlado adequadamente.
Em função da dificuldade em se definir bem as causas da doença, existe uma escassez de medicamentos que favoreçam a cura, algo que ainda não existe. Para os casos mais agudos da doença, costuma-se utilizar o sulfato de magnésio para retardar o risco das convulsões até que o feto esteja maduro o suficiente para nascer. Uma vez retirada a placenta, o organismo normalmente volta ao normal.

Reduzindo a hipertensão

Se por um lado o sulfato de magnésio é hoje um medicamento salvador de muitas vidas em fase aguda da eclampsia, por outro, ele pode colocar as vidas da mãe e do filho em risco devido ao seu alto nível de toxidade. O seu uso receita cautela e em muitos casos, a impossibilidade se faz necessária.
Devido a esse quadro ímpar de falta de soluções para o problema, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da empresa União Química se debruçou em estudos para a criação de um medicamento que atacasse a hipertensão diretamente, sem contudo, impactar negativamente na saúde das pacientes. Em 2013 o grupo divulgou as primeiras boas notícias da aprovação do medicamento na primeira etapa dos testes clínicos.
O processo de criação foi pautado por uma idéia simples: criar uma droga que tivesse como base moléculas fabricadas pelo próprio organismo humano. A escolha do grupo recaiu sobre a angiotensina 1-7, substância existente no plasma sanguíneo com características vasodilatadoras. Isso se deveu às observações realizadas durante as pesquisas, as quais evidenciaram, na grande parte das gestantes que apresentava problemas de hipertensão, uma deficiência marcante da substância no organismo.
Ato contínuo, o grupo pôs-se a criar a versão sintética da angiotensina 1-7 e testá-la em pequena amostra de gestantes em um processo altamente controlado. Isso aconteceu entre 2009 e 2011, quando um grupo de 14 gestantes com pré-eclampsia grave foi medicado com sucesso (diminuição da hipertensão sem os altos níveis de toxidade).
Com esse passo realizado, o grupo vai estender os testes para uma amostra um pouco maior de pacientes, em torno de 100, e observar se os resultados são mesmo favoráveis à criação massiva da droga para que seja, no futuro, comercializada não só no Brasil, mas em todo o mundo.

Enquanto a droga não vem

Prevenção é uma palavra chave em termos de saúde pública. O Brasil, em função da sumária pobreza que afeta boa parte de sua população, relega à sorte e aos desígnios divinos o processo da gestação, configurando-se em uma grave violação dos direitos reprodutivos da mulher. Se e quando oferece, a assistência pré-natal é de baixíssima qualidade, o que dificulta a identificação precoce dos fatores de risco.
Entretanto, entre as orientações médicas para as mulheres em situação de gravidez, destacam-se a prática de exercícios físicos compatíveis com as condições do momento, a suspensão da ingestão do álcool e do cigarro, a diminuição da quantidade de sal nas refeições e, principalmente, a consulta regular a um ginecologista que lhe possa orientar a ter uma gestação controlada e segura. São ações simples que podem salvar muitas vidas.

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Leia mais na edição nº 9850, dos dias 4 a 8 de junho 2015.