Julio Cesar Sampaio
Quando a atmosfera da Europa do século XVIII atingira as alturas do insuportável, ou seja, a saturação de eruditismo intelectual, que, por toda a parte, homens ainda não totalmente falsificados ensinavam o retorno a uma vida mais natural e simples; onde o homem civilizado dava a triste impressão de um monstro de cabeça e coração atrofiados e o homem culto seria um ser erudito, um árido intelectualista, aparece alguém e, fazendo-se locutor da consciência ou subconsciência de milhares e milhões de seus contemporâneos, lançou no meio dessas nuvens lúgubres a faísca elétrica consubstanciada no grito: retorno à natureza!(…). Rousseau bradava: “o homem nasce bom, mas a civilização o corrompe”. O que Rousseau chamava por natureza não era senão o apelo para o elemento intuitivo, não propriamente irracional, mas pré-intelectual e, por isso, também, ultra-intelectivo. Chegou ele à conclusão de que a vida humana baseada sobre o alicerce puramente empírico-intelectivo atrofia os reveses da vida, falsificando o ser humano. Nossa convivência humana esta corretamente suportável? Cremos que (ainda) não, infelizmente. Faz-se necessário orientarmo-nos pelo conceito da – Ética: doutrina que investiga a conduta humana, mediante seus costumes e hábitos (moral). Ao nosso elementar pensar, após um tempo de burilamento social, chegamos a uma conclusão que são três as questões que motivam a moral humana: quero – posso (logo)- devo. Destarte, quando uma dessas três torna-se negativa, estamos cometendo atos imorais, ou seja, num simples exemplo: quero fumar, nãoposso fumar, pois causa câncer, porém tenho dinheiro para comprar, logo devo fumar! = eis o erro! Aqui a vontade sobrepujou a razão, causando nesse (silogismo dedutivo) raciocínio uma mera representação do que seja a própria vontade. Triste. Tente fazer isso para qualquer coisa da sua vida. Façamos o contrário, ou seja, damos, agora, às três formas imperativas de moral como positivas: quero estudar, pois sei que preciso; posso estudar, pois estou numa boa escola, logo, devo dedicar-me aos estudos, pois quero cursar um bom curso numa boa faculdade! Perfeito, não?! Não obstante, a Ética também busca em suas “investigações” contextualizar e problematizar, por áreas específicas sociais, a ação social pelo pacto do consenso cooperativo global, ou seja, a ética visa o bem-estar social, isto é, o que então era visto como correto apenas isoladamente (moral subjetiva atrelada a atos individuais) agora, torna-se objetiva, uma necessidade geral, de âmbito socioeducacional, ou seja, como diz o ditado: “o que você faz pode ser bom ou ruim pra você, mas pra mim também!”. Em suma, antes o homem era acometido de atos que faziam dele, quando aplicados tais atos de forma benéfica, um homem justo, ou, ao contrário, injusto, sem maiores danos a coletividade mundial social. Hoje, as ações sociais coerentes e reflexivas sob a investigação do conceito ético visam o consenso mundial, pois a ação vigente causal tomou amplitudes semelhantes à máxima: “chamamos de Ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está olhando chamamos de Caráter” – Oscar Wilde… Capicce?
(Colaboração de Julio Cesar Sampaio, Licenciado em Filosofia com pós-graduação no ensino de filosofia)
Publicado na edição nº 9736, dos dias 23, 24 e 25 de agosto de 2014.