
O ano de 1930 representou o fim do período denominado República Velha, caracterizado pela tradicional política do café com leite, interrompida quando os paulistas impuseram o nome de Júlio Prestes para concorrer às eleições, em detrimento ao candidato dos mineiros, levando estes a apoiarem a Aliança Liberal, que apoiava Getúlio Vargas para presidência.
As eleições ocorridas no dia 1º de março, resultaram na vitória do candidato paulista, o que não foi aceito pela Aliança Liberal, que iniciou um movimento armado. Desta forma, em 24 de outubro antes do término de seu mandato, Washington Luís foi deposto e em seu lugar assumiu uma junta provisória. A seguir, em 3 de novembro, Getúlio tomou posse, dando início à “Era Vargas”, que se estendeu até 1945.
Nas citadas eleições, em Bebedouro o vitorioso foi Júlio Prestes, com 1511 votos, enquanto Vargas obteve somente 335 votos. Observa-se que o candidato paulista venceu em todos os munícipios paulistas e na maioria dos estados, exceto em Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul.
O reconhecimento e satisfação pela vitória de Prestes foram expressos por meio de mensagem de telegrama de 7 de março: “O Directório (do PRP) e a Câmara Municipal felicitam v. exc. Pela estrondosa victória alcançada pelo nosso Partido, elegendo todos os seus candidatos e reafirmam a v. exc. Inteira solidariedade. Cordiais saudações, (as.) Conrado Caldeira, presidente do Directório, e Antônio Alves de Toledo, prefeito municipal.”
No entanto, tal satisfação seria interrompida por conta do movimento da oposição para impedir a posse de Prestes, o que fez com que vários bebedourenses se juntassem à mobilização em prol do vitorioso, conforme telegrama de 14 de outubro: “Acaba de partir a Legião “Dr. Júlio Prestes”, representando a primeira contribuição de Bebedouro para a defesa da Pátria e da República. O nome de V. Exa. foi delirantemente aclamado pelo povo. Attenciosas saudações (as.) Pedro Pereira, presidente da Câmara; Antônio Alves de Toledo, prefeito; José Moraes, presidente do Directório.”
Nos dias subsequentes houve a intensificação do envolvimento dos paulistas contra as forças varguistas, chamadas pela imprensa situacionista como traidores. Defendendo a manutenção do poder constituído, ainda dominado pelo PRP, termos como “patriotismo” e “civismo” eram utilizados para motivar os jovens para seguirem para as trincheiras contra os “rebeldes”. Em Bebedouro, outra manifestação de apoio a Prestes foi dada pelo Cel. Raul Furquim, que enviou telegrama com a seguinte mensagem “Tenho a grande satisfação em communicar que no dia 19 ahi estarei, afim de apresentar a v. exc. cinco filhos e dois sobrinhos, para defender o governo constituído. Respeitosas Saudações.”
Conforme apontado, apesar da intensa oposição, Vargas obteve êxito em assumir a presidência e o que se viu em muitos lugares foi a adesão ao novo governo de grande parte daqueles que apoiavam as antigas oligarquias. Em Bebedouro não foi diferente, pois conforme palavras do memorialista Arnaldo B. Christianini, “ocorreu aqui um fato vergonhoso. Muita, mas muita gente do lado de lá, passou para o lado de cá. Muita gente ‘virou a casaca’ como então se dizia para designar os adesistas, os indivíduos de duas caras, os oportunistas cínicos. Basta dizer que a sede do Partido Democrático, na esquina da Rua Rubião Júnior com a Praça Valêncio de Barros, que vivia às moscas, repentinamente fica lotada de gente que saúda a revolução vitoriosa. Todo o mundo agora é revolucionário, e passa a usar a fitinha vermelha na lapela, e alguns até um lenço em volta do pescoço, ao estilo do vaqueiro gaúcho. Para se identificarem com Getúlio.”
A chegada de Vargas à presidência resultou em um processo de centralização do poder, com a dissolução do legislativo e a nomeação de interventores para o executivo, tanto nos estados como nos municípios, visando um alinhamento político. Desta forma, em Bebedouro o prefeito Antônio Alves de Toledo foi destituído e apesar dos protestos de parte da população, foi nomeado como interventor o Cel. Abílio Alves Marques, que permaneceu por poucos dias no poder, dando início a uma sucessão de mandatos de curta duração, até que a situação se normalizasse de acordo com as determinações da política varguista.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense).
Publicado na edição 10.657, de sábado a terça-feira, de 2 a 5 de abril de 2022.