‘Toma Lá Dá Cá’ completa 17 anos: série deixa saudades, mas não envelheceu tão bem

Marcos Pitta

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Saudade - Há 17 anos, Globo estreava um de seus humorísticos mais lembrados, ‘Toma Lá, Dá Cá’.

Criada por Miguel Falabella, o sitcom ‘Toma Lá, Dá Cá’, estreou nas noites de terça-feira da Globo em 2007 e foi um grande sucesso, sendo lembrada pelo público até hoje, com seus personagens inesquecíveis e bordões que vão ecoar na mente dos brasileiros para sempre. Agora em agosto, a série completa 17 anos de sua estreia e o que poucos sabem é que antes de ser efetivada na grade da emissora, a série foi ao ar em dezembro de 2005, como especial de fim de ano. Com a audiência boa, ganhou espaço na programação dois anos depois, substituindo o sucesso ‘A Diarista’.

A comédia tem história para garantir boas gargalhadas ao longo dos seus 91 episódios divididos em três temporadas. Apesar de ter episódios individuais, que podem ser assistidos sem sequência, é interessante ver a obra na ordem, para entender acontecimentos da vida dos personagens que não impactam diretamente no episódio em questão, mas sim na cronologia deles.

A história apresenta o condomínio Jambalaya Ocean Drive, onde dois casais vizinhos passam por situações hilárias e confusões do dia a dia. O corretor de imóveis Mário Jorge (Miguel Falabella) foi casado com Rita (Marisa Orth) no passado, também corretora, com quem teve Isadora (Fernanda Souza) e Tatalo (George Sauma), porém ele hoje vive com Celinha (Adriana Esteves). Celinha antes foi casada com o dentista Arnaldo (Diogo Vilela) e deu à luz Adônis (Daniel Torres), porém ele casou-se com Rita posteriormente, o que culminou em uma troca de casais. O seriado começa deste ponto, com os casais juntos há 10 anos. Mário Jorge e Rita se tornaram rivais de trabalho, Isadora é uma trambiqueira, Adônis é um adolescente complexado, enquanto Tatalo não consegue trabalho e tenta de tudo para conseguir garotas. Neste mesmo cenário vive Copélia (Arlete Salles), mãe de Celinha, uma mulher que não se prende a nenhum homem e leva todas as conversas para o lado sexual. A empregada paranaense Bozena (Alessandra Maestrini) divide-se entre as duas famílias, trabalhando um dia na casa de cada uma delas, tendo sempre uma história estranha para contar de sua cidade natal, Pato Branco. A síndica do prédio, Dona Álvara (Stela Miranda) é a antagonista cômica da trama e sempre inferniza a vida dos moradores do condomínio para se dar bem.

Apesar de icônica e tendo marcado uma geração, ‘Toma Lá, Dá Cá’ não envelheceu tão bem. Alguns episódios são completamente problemáticos na visão politicamente correta de hoje. Há, por exemplo, em alguns deles, casos de black face. O episódio ‘Império Sem Sentido’, quando os personagens, em uma sessão de transgressão, voltam ao império do Rio de Janeiro e Bozena, uma mulher branca, descobre que na vida passada foi uma escrava. Neste episódio, a atriz está com a pele pintada, para parecer uma mulher preta. No final do episódio, é revelado que Bozena se pintava para se infiltrar e conseguir informações no palácio.

O texto de Falabella é carregado de críticas ao governo e à sociedade e, muitas vezes, pode parecer preconceituoso. Mas, não. A série é um retrato crítico do preconceito imposto pela sociedade conservadora e isso ter sido exibido quase 20 anos atrás parece inacreditável. Algumas situações, sim, esdrúxulas e que hoje em dia não passariam despercebidas, mas é importante considerar como o autor é inteligente e sabia usar isto a seu favor.

Para quem gosta, a série está disponível no Globoplay, na íntegra e vale muito a pena para dar boas risadas, da época em que existiam bons programas de humor na televisão aberta. Além do mais, vale para matar saudades de Ítalo Rossi, Normal Bengel e Miguel Magno na segunda e terceira temporadas, respectivamente, como Seu Ladir, Dona Deise e Dra. Percy. Os três já faleceram.

Para quem quiser saber mais, o podcast Crítica em Foco desta semana já está disponível no Spotify com muitas curiosidades sobre esta série que deixa saudades.

Publicado na edição 10.862, de sábado a terça-feira, 3 a 6 de agosto de 2024 – Ano 100