Transtorno de pânico: o medo paralisa

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Marcelo Bosch Benetti dos Santos

O transtorno de pânico, ou a síndrome do pânico, consiste em uma psicopatologia caracterizada essencialmente por crises de grave ansiedade (pânico), medo e intenso mal-estar.
Tendo como referência a Classificação Internacional das Doenças, em sua décima edição (CID-10), para que o clínico chegue ao diagnóstico a pessoa precisa apresentar vários ataques de pânico em um período aproximado de 30 dias. Os ataques devem respeitar três critérios de ocorrência: (1) em situações em que não há um perigo real ou objetivo, caracterizando uma ansiedade desproporcional; (2) serem imprevisíveis, ou seja, não estarem associados a nenhum objeto ou situação específica; e (3) haver uma diminuição dos sintomas ansiosos entre os ataques.
Sofrer um ataque de pânico não significa necessariamente estar com o transtorno de pânico. Ataques de pânico podem ocorrer em outros transtornos mentais, como em síndromes depressivas, transtornos por uso de substâncias e transtornos fóbicos. Condições médicas gerais (por ex., em doenças cardíacas e respiratórias) também podem ocasionar uma crise.
O pico de um ataque de pânico é atingido em minutos, e apresenta alguns dos seguintes sinais e sintomas: aceleração dos batimentos cardíacos, falta de ar ou sensação de asfixia, dor no peito, tontura, sudorese, tremores, calafrios ou ondas de calor, náusea, sensação de dormência / formigamento em partes do corpo (como nos braços e nas mãos), sensações de irrealidade (desrealização) ou de estranhamento/distanciamento de si (despersonalização), medo de morrer, de perder o controle ou de enlouquecer.
Uma experiência perturbadora como essa geralmente desperta na pessoa um medo de ter outra crise, e, em certos casos, o distúrbio é acompanhado por outro transtorno de ansiedade, a agorafobia. A agorafobia é caracterizada pelo medo de sofrer crises de ansiedade em lugares nos quais o escape ou a ajuda podem ser difíceis ou estarem indisponíveis, fazendo com que a pessoa evite certas situações. Estes locais geralmente correspondem a espaços abertos (estacionamentos, pontes, estádios), fechados (bancos, lojas, cinemas, teatros), presença de multidões ou filas e ao uso de transporte público (ônibus, trens, aviões, automóveis).
O transtorno de pânico e os transtornos de ansiedade como um todo estão associados a vários fatores, como hereditariedade, comportamentos aprendidos, personalidade e fatores ambientais, como o estresse.
Além do tratamento psiquiátrico, em que as medicações ajudam a evitar e a controlar os sintomas, a psicoterapia é de extrema importância para o enfrentamento do transtorno. O terapeuta irá auxiliar o paciente a por em questão suas inseguranças, seus medos e suas crises de pânico. Isso irá favorecer a ampliação de sua consciência em relação ao que pode estar sustentando esta ansiedade tão desmedida.
O terapeuta também pode intervir de maneiras diretivas, como: auxiliar o paciente a perceber suas distorções de pensamento, como excesso de negativismo e interpretações equivocadas da realidade, que retroalimentam a ansiedade; treino para lidar com os sintomas, como a respiração diafragmática (mais profunda), que regulariza o funcionamento cardiovascular; e a exposição gradual e controlada a situações ansiogênicas.
Como é possível perceber, os distúrbios de ansiedade podem atrapalhar drasticamente a vida das pessoas. Contrários a um medo que mobiliza e nos encoraja para a vida, estes distúrbios provocam um medo terrífico, que paralisa. A vida é movimento constante; ser engolfado pelo medo ou pela inércia é deixar de viver com maior autenticidade e espontaneidade, sem pânico.
(Colaboração de Marcelo Bosch Benetti dos Santos, Psicólogo, Especialista em Psicologia Clínica Mestrando em Psicologia Clínica – PUC-SP).

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Leia mais na edição nº 9844, dos dias 21 e 22 de maio 2015.