Um acadêmico das artes em Bebedouro: Arlindo Castellane De Carli

José Pedro Toniosso

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Descendente de italianos, Arlindo Castellane de Carli nasceu na capital paulista em 6 de setembro de 1910 e aos oito anos de idade mudou-se com a família para o interior do estado, fugindo da epidemia de gripe espanhola. Fixaram-se inicialmente em Barretos, onde permaneceram por cerca de dois anos, transferindo-se em seguida para Jaboticabal, onde foi matriculado no 3º ano do grupo escolar e colocado como aprendiz em uma relojoaria.

Foi em Jaboticabal que traçou os primeiros desenhos e começou a imprimir sua marca nas telas, sonhando em ir para o Rio de Janeiro, estudar na Escola Nacional de Belas Artes. Quando completou 18 anos, trabalhava como pintor em prédios que seu pai, Henrique de Carli, construía. Foi quando teve a oportunidade de aprender a arte da modelagem de adornos nas construções mais suntuosas, que então proliferavam naquela cidade.

Diante dos bons resultados dos trabalhos que realizou, seu pai decidiu investir em sua formação e mandou-o para São Paulo, onde se tornou aprendiz de modelador na “Casa Francesa” e aluno do Liceu de Artes e Ofícios. Em seis meses foi contratado pela Oficina Nicola e Sala, da cidade de Santos, onde permaneceu três anos.

Foi então que Bebedouro entrou em sua vida, conforme o próprio artista explicou: “Em 1931 tive de socorrer meu pai nos trabalhos de modelagem de ornatos em prédio que construía em Bebedouro. O Edifício Zaccarelli. Para lá me dirigi e dei início aos trabalhos. Essa terrinha havia de marcar época na minha vida. Não tardou a aparecer a mulher que haveria de acompanhar-me e servir-me de inspiração para o resto da minha vida. Adelina (Junqueira Caetano) tinha sido a inspiradora dos meus quadros, a patrocinadora da primeira exposição em Bebedouro e a 24 de maio de 1932, tornara-se a minha esposa.”

Sua produção artística logo obteve repercussão em Bebedouro, conforme foi publicado em edição de 1937, do “Nosso Jornal”: “Visitando o ateliê que De Carli instalou à Praça Rio Branco, ficamos agradavelmente impressionados com os magníficos trabalhos produzidos pelo espírito artístico do jovem artista ‘bebedourense’. É preciso visitar, é preciso conhecer aquele pequeno salão de arte para se aquilatar o quanto de esforço vem tendo esse nosso caro amigo e patrício”.

No final do mesmo ano, o jovem artista organizou nova exposição de pinturas, porém na vizinha cidade de Jaboticabal, onde iniciara suas pinturas ainda adolescente, sendo publicada uma crítica elogiosa ao seu trabalho no jornal Democrata, daquela cidade: Seria diffícil dizer qual, dentre os quadros expostos, o melhor. Todos elles possuem o ‘toque’ que nos faz sentir logo que estamos em presença de alguém que não é um simples ‘dilletante’ da pintura, mas um artista consumado e perfeito.”

Em outubro do ano seguinte, inaugurou exposição em Ribeirão Preto, na Sociedade Dante Alighieri, com boa receptividade do público e da imprensa. No entanto, ao constatar que, após um mês, nenhum quadro fora vendido, soube que havia um pintor homônimo, o “De Carli” de Araraquara, conhecido por fazer apenas cópias, nada de original. Foi quando passou a adotar o nome completo “Arlindo Castellane de Carli”, passando a assinar “Castellane” em seus quadros, ganhando cada vez maior notoriedade, sendo contratado por famílias abastadas e instituições. A produção da herma de Getúlio Vargas, encomendada por uma instituição de Uberaba, em 1939, resultou em sua ida para a capital federal para ter o presidente da República como modelo no Palácio da Guanabara.

A partir da década de 1940 participou de inúmeras exposições nacionais e internacionais e recebeu inúmeros prêmios e medalhas, tendo obras instaladas em espaços públicos e privados, no Brasil e em outros países. Em reconhecimento ao seu trabalho artístico, tornou-se imortal pela Academia Brasileira de Arte, ocupando a cadeira número dois.

Faleceu em 6 de julho de 1985, na capital paulista, onde também nascera, embora muitas vezes fosse considerado bebedourense pelos laços que aqui estabeleceu. Entre as obras que produziu, algumas permanecem em Bebedouro, como as esculturas de Anchieta, na praça Valêncio de Barros (1953) e de Abílio Alves Marques, na praça com o mesmo nome (1952), murais da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida (1967) e telas de particulares.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)

Publicado na edição 10.766, sábado a terça-feira, 24 a 27 de junho de 2023 – Ano 99