Atualmente, somos cerca de 8 bilhões de habitantes no mundo, com projeções indicando que até 2050 alcançaremos aproximadamente 9,5 bilhões de pessoas. Esse crescimento populacional, aliado ao aumento do consumo per capita e à expansão das áreas urbanas, destaca a importância de nossa capacidade em suprir as crescentes demandas humanas, especialmente no que diz respeito à produção de alimentos.
De acordo com dados da FAO, mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentam dificuldades para obter alimentos em quantidade suficiente para uma vida saudável e produtiva. A maioria dessas pessoas está concentrada na África, região que enfrenta desafios alimentares crônicos há muitos anos. No Brasil, este cenário afeta aproximadamente 64 milhões de pessoas, evidenciando uma situação alarmante que não pode ser ignorada.
Evidentemente que o combate à fome requer abordagem abrangente, que inclua programas de renda mínima familiar, redução das disparidades regionais, acesso à educação e saneamento básico, criação de empregos e estabilidade econômica. Esses elementos são fundamentais para impulsionar de forma significativa a redução da fome global.
Contudo, não podemos subestimar o papel crucial da sustentabilidade da agricultura nesse contexto. Ignorar esse aspecto seria tratar a questão da fome com negligência. A sustentabilidade agrícola é e sempre será um dos pilares essenciais para garantir a segurança alimentar em longo prazo.
Números de base
Para sustentar a vigorosa produção agrícola nacional, o Brasil se posiciona como o quarto maior consumidor global de fertilizantes, sendo o principal importador desse insumo. Para se ter ideia, em 2021, dos 40 milhões de toneladas de fertilizantes utilizados, 85% foram importados, uma realidade que reflete a carência de nutrientes em nosso solo tropical, conforme destacado pelo pesquisador da Embrapa Solos, José Carlos Polidoro.
Ao contrário de regiões no hemisfério norte, nosso solo apresenta deficiências notáveis de nutrientes, o que demanda uma aplicação regular de fertilizantes e adubos para garantir seu equilíbrio. Esse cenário é especialmente significativo nas culturas-chave como soja, milho, cana-de-açúcar e algodão, que absorvem cerca de 90% das importações de fertilizantes. Ressalta-se que a Rússia é nosso principal fornecedor, seguida por China, Marrocos, Canadá e Estados Unidos.
Remodelando o cenário
Com a escalada da guerra na Ucrânia em 2022, o Brasil ficou em alerta devido à sua dependência do fornecimento de fertilizantes, especialmente da Rússia, responsável por cerca de 23% dos nutrientes consumidos pela nossa agricultura. Essa questão é crucial para a sustentabilidade do setor.
Diante desse cenário delicado e considerando outras importantes variáveis de mercado, a companhia suíça Atlas Agro anunciou a instalação de uma nova planta no Triângulo Mineiro para produção de fertilizantes nitrogenados.
Ao contrário de outras indústrias que dependem de matéria-prima não renovável e possuem alta emissão de carbono, a Atlas propõe abordagem totalmente sustentável ao utilizar matriz energética 100% limpa para produção de hidrogênio verde, amônia verde e fertilizante nitrogenado de emissão zero.
Com investimento significativo de aproximadamente US$ 850 milhões, a nova fábrica terá capacidade para produzir cerca de 500 mil toneladas de fertilizantes por ano. Esse empreendimento não apenas fortalece a sustentabilidade ambiental, mas também contribui para a economia local, gerando entre 2.000 empregos durante a fase de construção e 500 a 600 empregos durante a operação da planta.
Nas palavras de Rodrigo Santana, diretor de operações da Atlas Agro, este empreendimento não apenas impulsionará de forma significativa o desenvolvimento da economia regional, mas também colocará o Brasil na vanguarda da agricultura sustentável em escala global. Verdadeiramente um modelo a ser seguido por um país que busca erradicar a triste realidade da fome.
(Colaboração de Wagner Zaparoli, doutor em ciências pela USP, professor universitário e consultor em tecnologia da informação).
Publicado na edição 10.842, de sábado a terça-feira, 11 a 14 de maio de 2024