O transeunte desavisado que passa pela avenida Dr. Arnaldo na cidade de São Paulo, uma das mais famosas, localizada no bairro de Pinheiros, dificilmente vai associar o nome à personalidade. Aliás, em nossa correria do dia-a-dia raramente paramos para fazer isso, mas no caso dessa avenida paulistana, conto aqui rapidamente.
Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho, ou popularmente, Dr. Arnaldo, foi o fundador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) na primeira metade do século passado, especificamente em 1912. Na ocasião a instituição recebeu o nome de Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, já que a própria Universidade de São Paulo ainda não existia.
Tudo começou com a idéia de se fazer uma escola moderna cujo currículo fosse diferente das três escolas que já existiam no Brasil – Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador. O tom era permear o ensino da nova faculdade com pesquisas e estudos laboratoriais, e não simplesmente dar destaque para a clínica como faziam as outras.
Projeto
mambembe
O projeto inicial da faculdade de medicina, como vários outros no Brasil, passou por dificuldades financeiras. Tanto que ela começou a funcionar sem uma sede própria, utilizando, nos primeiros anos de sua vida, a infraestrutura da Escola Politécnica, da Escola de Comércio Álvares Penteado e a de um prédio alugado na rua Brigadeiro Tobias. Em consonância, possuía um corpo docente diminuto: o próprio Vieira de Carvalho, Celestino Bourroul e Edmundo Xavier.
Antes da década de 1920, entretanto, a faculdade recebeu o apoio financeiro de um peso-pesado americano, a Fundação Rockefeller, que se prontificou em financiar a evolução da faculdade desde que ela construísse um hospital de ensino coligado.
Consolidando as bases
Vieira de Carvalho morreu prematuramente aos 53 anos em 1920, mas a despeito da perda, a faculdade prosperou continuamente como sonhava seu mestre. Em 1931 a grandiosa sede foi inaugurada dando real consistência a seu patrimônio. Em 1944 foi a vez da escola de ensino – o Hospital das Clínicas. Em 1951 a faculdade foi classificada entre as 15 melhores do mundo pela Sociedade Americana de Medicina.
Seu corpo técnico não fica atrás: em 1965 realizou o primeiro transplante de rim da América Latina; em 1968 foi a vez do transplante de fígado; e no mesmo ano, a equipe realizou o segundo transplante do coração do mundo.
Corrida para uma saúde melhor
Atualmente, a Faculdade de Medicina e o complexo das Clínicas despontam em grandiosas produções, cujas relevâncias científica e social se destacam em primeiro plano. Números de 2012 corroboram com a afirmação: entre docentes e não docentes, trabalham na FMUSP quase mil profissionais; entre graduação e pós-graduação são mais de 5 mil alunos; entre artigos e livros, foram mais de 2 mil publicações; entre consultas, visitas em casa, atendimentos e exames diversos, o número ultrapassou a casa dos 15 milhões.
Embora a cidade, e porque não dizer, o país, precisem de muito mais, a história iniciada com Dr. Arnaldo, em 1912, chega ao século XXI em boa forma. Eu, particularmente, que pude fazer parte de seu corpo discente por alguns anos, trago comigo ricas lembranças e profundo respeito pelos profissionais que ali desenvolvem o seu trabalho. Em especial, pelo Professor Raymundo Soares de Azevedo Neto, catedrático, pesquisador, mas antes de tudo meu orientador, por me permitir o acesso a um universo tão dinâmico e desafiador em uma das maiores instituições de ensino e pesquisa do Brasil.
Vida longa à FMUSP!
Publicado na edição nº 9735, dos dias 21, e 22 de agosto de 2014.