Nas primeiras décadas do século passado foi expressiva a participação dos imigrantes no processo de desenvolvimento do município de Bebedouro. Entre as nacionalidades dos que aqui se fixaram, uma das mais vultosas foi a espanhola, o que pode ser constatado com a criação de uma associação na década de 1910, formada exclusivamente por cidadãos espanhóis e voltada para a realização de eventos sociais e culturais de interesse daquela colônia.
A fundação do denominado “Centro Hespanhol Beneficente” aconteceu nos primeiros dias do mês de maio de 1911, quando cerca de 90 compatriotas se reuniram, sendo eleita a primeira diretoria, formada por Francisco Figueiredo, presidente; Manoel Sobreira, vice-presidente; José Arias Cenoz, primeiro secretário; Fidelis Esteves, segundo secretário; Bonifácio Cassilhas, tesoureiro; Gabriel Perez, orador; José Garcia, segundo orador; Thomaz Gonzalez, Manuel Queixa Perez, Leonardo Garcia e Francisco Iglesias, vogais.
Outro indicador sobre a importância da colônia espanhola no município foi a publicação de um interessante relato do diretor do jornal “Diário Español”, editado na capital paulista e integralmente na língua espanhola. Inserido na edição de 10 de junho de 1912, o texto apresentou diversas considerações sobre a viagem pelo interior do estado, incluindo aspectos da área urbana e rural bebedourenses.
Sobre seus compatriotas em Bebedouro o jornalista escreveu: […] Só diremos que Bebedouro, devido ao crescimento que experimenta o café, progride assombrosamente, seguindo o rumo de outras populações do interior, em que a exploração do sólo continua em constante aumento, bem como sua riqueza complementar. Os espanhois cujo número cresce dia a dia, tem alcançado justa recomprensa por seu trabalho, e muitos trabalhadores, que até há pouco tempo eram colonos nas fazendas, são hoje proprietários de importantes posses agrícolas.
Seguindo pela linha da São Paulo-Goiás, teceu as seguintes considerações sobre Monte Azul, então distrito de Bebedouro: […] tomamos passagem com destino a Monte Azul, a zona do Estado onde mais espanhóis existem, desfrutando todos de invejável bem-estar e de um crédito digno de admiração.
Comentou também sobre a paisagem do distrito de Botafogo: Na Estação Botafogo existe uma esplendida propriedade agrícola pertencente a um espanhol, que a adquiriu faz poucos meses por uma quantidade que representa uma fortuna. […] A partir da Estação de Botafogo, a locomotiva continua sua vertiginosa carreira cruzando terras pertencentes a irmãos de nacionalidade […] Não mencionamos aos demais compatriotas possuidores de fazendas que atravessam a linha, durante léguas e léguas, pois esta relação seria muito extensa.
Finalizando o relato, enaltece o trabalho e as conquistas dos compatriotas na região: “É indescritível a satisfação que se apodera do ânimo do viajante ao observar tanta propriedade espanhola, não é menos intensa a alegria que sente o coração ao ver a felicidade que desfrutam os filhos da Espanha que chegaram a estes locais com os únicos, porém preciosos recursos de sua honradez, sua nobreza e seus desejos de trabalhar para melhorar de sorte.”
A expressividade da comunidade espanhola em Bebedouro foi tão significativa que a cidade chegou a ter uma Agência Consular, vinculada ao Centro Espanhol. Entre os eventos promovidos, tiveram destaque as comemorações pelo aniversário do rei D. Afonso XIII, realizadas em 17 de maio de 1916, quando a sede da instituição foi ornamentada com as bandeiras brasileira e espanhola e contou com a presença do agente consular local D. Juan Cividanes.
Participaram da solenidade lideranças e autoridades como o Dr. Érico V. de Almeida, juiz de direito da comarca; Dr. Jorge Americano, promotor público; chefes políticos coronéis. João e Abílio Manoel; Cel. Alexandre Pulino, delegado de polícia; vereadores; Padre Francisco Garaud, pároco local; Frei Juan Requena, coadjutor; Dr. Francisco Duarte Paraíso Cavalcanti, Dr. Zacharias D’Oliveira Bahia, Dr. José Antônio de Melo, Cel. Nicolau Cassiano, agente consular da Itália; Major Manoel Fraguas Ogando, e outros convidados, incluindo comerciantes, capitalistas e representantes da imprensa. Um evento tão prestigiado denota a importância da instituição e da colônia espanhola no contexto da época.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição 10.871, de sábado a terça-feira, 7 a 10 de setembro de 2024 – Ano 100