O Colégio Anjo da Guarda foi inaugurado em 31 de janeiro de 1931, sendo que entre as irmãs da Congregação de Santa Doroteia, que participaram da fundação, algumas eram de origem portuguesa e devotas a Nossa Senhora de Fátima, o que motivou sua adoção como patrona da pequena capela que havia no interior da própria instituição.
No decorrer dos anos cresceu a intenção de se construir um templo maior em sua honra, o que se tornou possível com a doação de um terreno pertencente à família do Cel. Raul Furquim, ao lado do Colégio, no qual funcionava um estabelecimento de beneficiamento de café.
Desta forma, na manhã de 13 de outubro de 1944 ocorreu a cerimônia de lançamento da pedra fundamental, precedida pela celebração de uma missa pelo Monsenhor Aristides da Silveira Leite.
Estavam presentes autoridades, convidados, as irmãs Doroteias, professoras e todas as alunas, internas e externas, rigorosamente uniformizadas e em máxima disciplina. Durante a cerimônia, foi feita a leitura da ata do início da construção, sendo depois assinada pelas autoridades, religiosas e familiares do benemérito Cel. Raul Furquim. A ata foi colocada dentro de uma pedra de mármore, feita especialmente para o ato e ofertada pelas alunas normalistas de 1943. Fechada hermeticamente, a pedra foi depositada no seio da terra, enquanto a comunidade presente entoava o hino a Nossa Senhora de Fátima.
As obras para a construção do templo teriam início somente em 13 de setembro de 1945, ou seja, quase um ano depois do lançamento da primeira pedra, e a inauguração da Igreja aconteceria quatro anos depois, em 21 de novembro de 1949, como resultado de um grande esforço da comunidade católica, especialmente das religiosas e alunas do Colégio.
De Portugal para o Colégio: a imagem de Nossa Senhora de Fátima
No mesmo ano da inauguração da capela foi organizada uma comissão com membros da colônia portuguesa da cidade e região, liderada por Amândio Miranda, Joaquim Moreira Macedo, Adriano Garrido e Orlando França de Carvalho, tendo como objetivo a aquisição de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima.
A imagem, medindo dois metros e vinte e nove centímetros, foi esculpida em madeira de cedro enviada do Brasil ao ateliê sacro do escultor português José Ferreira Thedim.
Depois de ter recebido a bênção pelo bispo de Leiria na “Cova da Iria”, em Portugal, local da aparição da Virgem de Fátima para as três crianças portuguesas, a imagem embarcou no navio “Serpa Pinto” para o Brasil, no dia 26 de outubro de 1950 e chegou ao porto de Santos, no dia 9 de novembro. A chegada da imagem ao porto foi momento de grande emoção para todos os que estavam presentes, incluindo autoridades bebedourenses, membros da colônia portuguesa e as Irmãs Dorotéias.
A imagem foi levada à casa das Dorotéias em São Paulo e, posteriormente, trazida de trem para Bebedouro, onde as festividades de recepção realizadas em 25 de novembro seguiram programação especial, conforme divulgado:
– Chegada da imagem em trem especial na estação da Cia Paulista, com recepção dos fiéis e autoridades;
– Procissão luminosa pelas ruas da cidade, passando pela Igreja Matriz e seguindo até a nova capela do Colégio.
– Entrega, à Virgem, das chaves da cidade pelo Prefeito Municipal;
– Entrega, à Virgem, do coração dos bebedourenses, das alunas e professores do Colégio “Anjo da Guarda”;
– Entronização da imagem na capela de Nossa Senhora de Fátima;
– “Te Deum” e solene bênção do SS. Sacramento.
Devido às chuvas não foi possível proceder-se à queima de fogos no mesmo dia, o que ocorreu no dia seguinte na chácara do Cel. Raul Furquim, ao lado do Colégio. Neste dia houve missa solene, celebrada pelo bispo da diocese de Jaboticabal e, à tarde, visita à capela feita pelos fiéis vindos das cidades vizinhas.
Em 1953, por meio do Decreto de Lei no. 236, de 12 de maio, aprovada pela Câmara Municipal e promulgada pelo prefeito municipal dr. Pedro Paschoal, a rua em que se localiza o Colégio Anjo da Guarda e a referida capela, que até então era chamada “Almeida Pinto”, passou a ser denominada Rua Nossa Senhora de Fátima.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição 10.869, de sábado a terça-feira, 31 de agosto a 3 de setembro de 2024 – Ano 100