A conquista do direito à participação política feminina no Brasil foi oficializada em 24 de fevereiro de 1932 com a aprovação do Código Eleitoral, que garantiu o direito de as mulheres votarem e de serem votadas. Com isso, nas eleições de 1933 foi eleita a primeira mulher para um cargo do Legislativo no estado de São Paulo, a deputada federal Carlota Pereira de Queiroz.
Em Bebedouro, até as eleições de 1947, não há o registro da participação de nenhuma mulher como candidata a cargo eletivo, sendo que somente em 1951 surgiria o primeiro nome entre os pretendentes à vereança.
Naquelas eleições, houve a inscrição de 68 candidatos para a Câmara Municipal, sendo 67 homens e apenas uma mulher, Maria de Lourdes Figueiredo, pelo PSP – Partido Social Progressista.
Em uma crônica publicada no livro “Mensagens de Amor”, de sua autoria, Maria de Lourdes explicou que sua candidatura fora resultado de um convite, conforme deixou registrado: “Numa manhã primaveril balsamizada pelo perfume dos roseirais em flor recebi a visita de 3 pessoas ilustres: Sr. Salvador de Rosis, Sr. Hamleto Stamato e Dr. Aquino! Prosinha vai, prosinha vem, o Sr. Salvador abriu o diálogo: D. M. de L., nós viemos convidá-la para ser nossa vereadora pelo PSP. Eu fiquei perplexa sem saber o que responder; como posso aceitar se não tenho conhecimento de política? Sr. Salvador respondeu: Eu fui vereador muitos anos e vou ensiná-la! […] Um pedido de 3 grandes amigos eu não posso recusar, mas existe um senão: sou casada, qual será a atitude do meu esposo? Eles responderam: Ele consentiu, depende da senhora. Eu entusiasmada aceitei.”
Finalizada a campanha, vieram os resultados: os 15 vereadores eleitos eram todos do sexo masculino, sendo que o PSP conseguiu eleger cinco candidatos para a Câmara. A candidata Maria de Lourdes ficou na décima colocação, com apenas 59 votos, porém, devido ao pedido de exoneração do vereador Quito Stamato, foi convocada para tomar posse, tendo exercido o mandato em dois períodos: de 09 de outubro a 11 de dezembro de 1953 e de 26 de abril a 03 de dezembro de 1955.
Em sua crônica, a vereadora avaliou o seu mandato da seguinte forma: “Que felicidade imensa eu senti em presentear Bebedouro com um pouco do meu trabalho, esforço, dedicação. Bebedouro era uma cidade pobre, desprovida de infraestrutura, luz, água, asfalto. Dr. Pedro (Paschoal) apresentava seus projetos atacando os pontos fracos. Trabalhamos com amor! As reuniões eram pesadas, nunca terminavam antes da meia noite e no fim do ano para aprovar o orçamento trabalhávamos até duas horas da madrugada”.
Maria de Lourdes Figueiredo também concorreu à vereança nas eleições de 1955, sendo novamente a única mulher entre os 48 candidatos. Tendo obtido apenas 47 votos, ficou apenas na 16ª colocação entre os vinte candidatos do seu partido (PSP).
Nas eleições das décadas seguintes não houve o registro de candidatura de mulheres ao legislativo municipal, deixando um intervalo de mais de trinta anos sem vereadoras na Câmara local. O jejum seria interrompido apenas em 1988, quando a candidata Irene Maria Marangoni Minholo conseguiu ser a segunda vereadora eleita da história de Bebedouro, tendo exercido a função por três mandatos, além de sido a única mulher na presidência da Casa (biênio 1995/1996).
Desde então, com a implementação de cotas de gênero, que visam ampliar a participação feminina nas eleições, o número de candidatas para o legislativo municipal tem sido significativo, fator que possivelmente contribuiu para que uma ou mais candidatas fossem eleitas em todas as disputas realizadas.
Resumo biográfico de Maria de Lourdes Figueiredo: era natural de Patrocínio Paulista, onde nasceu em 1914. Formou-se professora primária e em 1932 casou-se com Paulo Cézar de Figueiredo, em 1947 mudou-se para Bebedouro, onde o marido tornou-se sócio dos Laticínios São Geraldo. Teve atuação de destaque nas atividades da igreja católica, sendo a primeira Ministra da Eucaristia da diocese de Jaboticabal. Por 25 anos conduziu o Santo Terço Meditado pela Rádio Bebedouro, além de ter publicado diversas crônicas nos jornais locais. Em 1979 foi homenageada com o título de cidadã bebedourense, além de ter emprestado o seu nome a uma rua do bairro Jardim Alvorada. Em 1988 mudou-se para a cidade de Franca, onde passou a residir.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)
Publicado na edição 10.764, sábado a terça-feira, 17 a 20 de junho de 2023 – Ano 99