A fundação do Asilo São Vicente de Paulo, atual Recanto

José Pedro Toniosso

0
94
Idosos asilados e Irmãs Passionistas nos primeiros anos do então Asilo São Vicente de Paulo. Foto: Acervo do Recanto São Vicente de Paulo.

A Conferência ou Sociedade de São Vicente de Paulo foi uma associação de homens católicos fundada em 6 de fevereiro de 1928 e vinculada à Paróquia de São João Batista, tendo como objetivo principal a prestação de socorros às famílias necessitadas.

Desta forma, os vicentinos se reuniam todos os domingos de manhã, na Igreja Matriz, após a realização da missa, para tratarem das ações a serem desenvolvidas. Faziam distribuição de gêneros alimentícios por meio de vales aos necessitados e promoviam visitas em seus domicílios.

Outro objetivo divulgado desde a criação da Conferência, era a construção de um asilo para atendimento à “mendicidade e velhice desamparada”. Para viabilizar o intento foi organizada uma comissão formada pelo Cel. Conrado Caldeira, Alcindo Paoliello, Saturnino Lemos de Toledo, Cap. José de Souza Lima e Joaquim Alves Guimarães.

A primeira demanda foi a compra do terreno para a edificação, localizado no final da Rua Alfredo Ellis, atual Avenida Pedro Hortal. Em seguida foi aberta uma lista de subscrição para arrecadação dos recursos necessários para a construção, sendo iniciada pelo Cel. Raul Furquim, que fez a doação de 10 contos de réis em dinheiro e mais 2 contos de reis em títulos de valor.

O lançamento da pedra fundamental aconteceu a 24 de junho de 1928, em uma cerimônia simples presidida pelo Cônego Aristides da Silveira Leite e que contou com a participação de grande número de pessoas, incluindo as associações católicas, comissão da construção, convidados e banda de música. A planta do edifício foi elaborada pelo engenheiro João Alves de Toledo, que coordenou a equipe de trabalho.

As obras do pavilhão principal foram finalizadas e o prédio foi entregue em 21 de março de 1929, mas sua inauguração ocorreu apenas em 19 de março de 1931, com programação que teve início na Matriz de São João Batista, seguida de uma procissão em direção ao Asilo, levando um andor com imagem de São Vicente de Paulo que foi instalada na Capela do novo estabelecimento de caridade. No local foi realizada uma missa e, depois a benção do edifício central e das quatro pequenas casas que foram construídas ao lado, no mesmo terreno.

Após os atos religiosos, o edifício foi aberto para visitação do público e, na mesma ocasião, a administração interna foi entregue às Irmãs Passionistas, representadas pela Provincial da Congregação, Irmã Anunciata Innanzi. Incialmente, o grupo de passionistas era formado por quatro religiosas, incluindo a primeira diretora do Asilo, Irmã Ângela de Paula.

A Conferência de São Vicente de Paulo esteve à frente da administração externa do estabelecimento até os últimos meses de 1932, quando foi transferido para as Irmãs Passionistas por meio de um contrato de escritura pública.

No decorrer dos anos, as instalações passaram por várias reformas, sendo remodeladas e ampliadas.  No início da década de 1940, junto ao pavilhão central, foi construída uma continuidade para uma capela mais ampla e novos dormitórios, além de um galpão e pátio para as idosas. Na época, o estabelecimento chegou a ter cerca de 120 pobres asilados, contando com expressiva colaboração da comunidade, além de receber parte das rendas das Festas da Primavera e das Festas de São João Batista, padroeiro do município.

Em 31 de maio de 1951, o primeiro prédio construído e ainda pertencente aos vicentinos, foi doado à Congregação Passionista, em ato oficial que contou com a presença da Madre Provincial, Irma Anunciata Innanzi, e do Frei Marcelo Manilla, vigário da Paróquia local, entre outros.

Durante o período de 1952 a 2004, o Asilo reservou parte de suas instalações para o funcionamento do processo de formação religiosa denominado “Aspirantado”, que precede ao pré-noviciado. Enquanto aspirantes, as jovens contribuíram com a catequese e apostolados da Paróquia, sendo que diversas seguiram para outras Casas da Congregação, completando a formação necessária para permanecerem na vida religiosa.

Na década de 1960, novos pavilhões foram edificados e acrescentados ao prédio principal, incluindo um pavilhão exclusivo para os homens e outro para as mulheres. Em 1973, o estabelecimento passou a ser denominado “Recanto São Vicente de Paulo”, dando continuidade, até os dias atuais, ao trabalho voltado aos idosos, muitos em situação de vulnerabilidade ou exclusão social.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).

Publicado na edição 10.818, de sábado a terça-feira, 3 a 6 de fevereiro de 2024