
“Geisel em Bebedouro”, informava a Gazeta de Bebedouro, em letras garrafais e no alto da primeira página, em sua edição de 26 de junho de 1977. Não era por menos, pois ao longo de sua quase centenária trajetória histórica, jamais o município recebera a visita de um Presidente da República no exercício da função.
Desta forma, no contexto da ditatura militar, destacava a visita do presidente General Ernesto Geisel no dia 8 de julho daquele ano, conforme o coordenador da viagem, comandante Eduardo Rodrigues, informara por telefone ao prefeito Hélio de Almeida Bastos, acrescentando que viria em data anterior para orientar sobre o cerimonial de recepção ao chefe do Executivo Federal.
A programação da visita, com duração prevista de quatro horas, incluía a inauguração da unidade de aproveitamento do bagaço de laranja para fabricação de ração animal, na Frutesp, concentração popular na Concha Acústica da Praça Barão do Rio Branco e solenidade de inauguração da II Feira Citrícola Comercial e Industrial de Bebedouro, no Estádio Sócrates Stamato e Ginásio de Esportes Sérgio Baptista Zacarelli.
Conforme previsto, o presidente e sua comitiva desembarcaram no aeroporto local por volta das 13h35, sendo recebidos pelo governador Paulo Egydio Martins; prefeito Hélio de Almeida Bastos; juiz de Direito da comarca, Carlos Luiz Bianco; presidente da Câmara, vereador Arnaldo de Rosis Garrido, entre outros.
A comitiva presidencial incluiu os seguintes ministros: Alisson Paulinelli, da Agricultura, Ângelo Calmon de Sá, da Indústria e Comércio, e general Hugo Andrade Abreu, Chefe do Gabinete Militar da Presidência, além do governador do estado de Minas Gerais, Aureliano Chaves, e os deputados Amaral Furlan e Sérgio Cardoso de Almeida.
Na Frutesp, primeira visita agendada, Geisel e comitiva foram recebidos por grupo de operários, além da diretoria da Frutesp e da Coopercitrus e após o descerramento da placa inaugural da Unidade de Processamento de Polpa Cítrica, fez uso da palavra o presidente da Frutesp, Eduardo de Paula Ribeiro, que enalteceu a importância daquela inauguração, além de agradecer ao presidente da República por sua presença.
Na sequência, o presidente dirigiu-se à região central da cidade, onde grande massa popular o aguardava, pois o munícipio havia decretado feriado, o que favoreceu a participação do povo no evento. No palanque organizado na Concha Acústica, Geisel saudou o público, que entusiasticamente acenava bandeiras do Brasil e do Estado de São Paulo. Entre as autoridades presentes, além das que foram citadas, também estavam os vereadores e o presidente do diretório local da Arena, José Deocleciano Ribeiro Filho.
Sendo o primeiro a discursar, o prefeito Hélio Bastos ressaltou o progresso gerado pela citricultura, apresentando números expressivos das exportações da laranja, de 13 milhões de dólares em 1970 para uma previsão de 300 milhões de dólares em 1977. Comentou também sobre a constante preocupação com o cancro cítrico, e a necessidade de contar com o apoio do governo estadual e federal na campanha de erradicação da moléstia que ameaçava dizimar os pomares.
Após a fala do governador Paulo Egydio, que fez memória ao processo que levou à criação da empresa Frutesp S.A., Geisel fez um pronúncio de improviso.
Em seu discurso, o presidente também fez menção à crise da laranja, que atingiu a indústria, agricultura e comércio, quando então comentou sobre os recursos financeiros e tecnológicos recebidos do exterior, mas enfatizando que só foi possível a superação da situação crítica por conta das ações conjuntas, exaltando a união entre o povo e o Governo.
Em seguida, Geisel, sua comitiva, autoridades e convidados participaram da inauguração oficial da II Feccib e de coquetel oferecido no local, momento em que o presidente recebeu novas homenagens. Na visita aos stands, demonstrou interesse pelos processos de produção e comercialização da laranja in natura no mercado externo.
Ainda na Feccib, o presidente recebeu da diretoria da Cooperativa dos Cafeicultores e Citricultores de São Paulo e da Associação Paulista de Citricultores, um memorial sugerindo a abertura de exceção para a citricultura quanto ao desconto de cédulas de crédito rural, considerando as especificidades da área.
Finalizando a visita histórica, após as despedidas realizadas no aeroporto, deu-se o embarque da comitiva para Brasília.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense.
www.bebedourohistoriaememoria.com.br)
Publicado na edição nº 10.744, sábado a terça-feira, 25 a 28 de março de 2023