A educação escolar na década de 1920, em Bebedouro ficou marcada pela expansão da oferta do segmento secundário, com a fundação do Ginásio Luso-Brasileiro em 1922, escola que, quatro anos depois, se tornaria o Ginásio Municipal, em novo prédio e atendendo no regime de internato e externato, mantendo, porém, o ensino pago.
Quanto ao ensino técnico profissional, ainda não havia regulamentação estatal para sua estruturação, mas as mudanças econômicas e sociais que ocorriam, com a crescente urbanização e o surgimento de novas empresas, resultaram na abertura de cursos pela iniciativa privada, principalmente na área comercial.
Foi neste contexto que foi fundada em 6 de fevereiro de 1927, a “Escola de Comércio de Bebedouro”, filiada à Escola de Comércio de São Carlos e tendo na direção o professor normalista Octávio Monteiro de Castro, e a contadora Ernestina Del Buono Trama. Inicialmente, a escola funcionava na rua XV de Novembro, esquina com a rua Antônio Alves de Toledo, onde atualmente se localiza a agência dos Correios.
No decorrer deste mesmo ano, o professor Octávio M. de Castro deixou a direção desta escola e com isso foi fundado um novo estabelecimento, a “Academia Comercial de Bebedouro”, localizado à praça Valêncio de Barros, n. 21, tendo Ernestina Del Buono Trama como diretora.
Nos primeiros meses de funcionamento, a escola obteve boa procura. Em agosto, aconteceu a primeira diplomação, de 11 alunos no curso de datilografia e correspondência. Em setembro, havia 48 alunos matriculados no curso de guarda-livros, sendo que em outubro, 40 deles eram examinados diante de uma banca formada pelos professores Julien Fauvel, diretor da Escola de São Carlos; Antônio Godofredo Leistner, diretor do Grupo Escolar de Bebedouro; e João Leite de Camargo, professor do Grupo.
Com o crescente número de alunos, as primeiras instalações ficaram pequenas, o que fez com que a escola mudasse temporariamente para outro endereço, no final da rua Francisco Inácio. No final de 1928, a escola conseguiu o título de “estabelecimento de ensino comercial oficializado e fiscalizado pelo Ministério da Agricultura”, desvinculando-se da Escola de São Carlos.
No ano seguinte foi eleita a primeira diretoria da Academia, empossada por ocasião da inauguração do novo prédio, um sobrado na rua Prudente de Moraes, n. 503, construído especialmente para a escola. Faziam parte da diretoria, Cel. Raul Furquim, como presidente; Antônio Alves de Toledo, vice-presidente; Ernestina Del Buono Trama, diretora; José Lopes de Castro Moreira, vice-diretor; Oswaldo Orico, fiscal do governo; Benedicto Trama, secretário. O corpo docente era formado pelos professores Antonio Godofredo Leistner, Raul Paiva Castro, Alexandre Valvano e Lívio Teixeira.
Em novembro de 1930, como um dos primeiros atos do Governo Provisório de Getúlio Vargas, ocorreu a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, e no ano seguinte foram sancionados diversos decretos para organizar o ensino secundário. O Decreto n. 20.158, regulamentou a profissão de contador e organizou o curso técnico de comércio em duas partes: a primeira de caráter propedêutico e a segunda de habilitação específica.
Com a regulamentação, a escola intensificou a divulgação dos cursos oferecidos, como neste anúncio publicado no jornal “O Colinense”, de janeiro de 1932: “Esta casa de ensino comercial superior, fundada há 7 anos no centro da bela cidade de Bebedouro, em prédio próprio confortável, já expediu diplomas legais a duas turmas de peritos contadores. O seu corpo docente é de alta competência nas matérias que leciona. A instalação da escola é aprimorada, obedecendo a todos os preceitos da pedagogia hodierna e os requisitos de higiene. É Internato, Semi-Internato e Externato. É uma carreira excelente a comerciária, a qual com a lei recém promulgada nivela-se às melhores e mais rendosas profissões.”
Em dezembro de 1930, a Academia realizou a colação de grau da 1ª Turma de Contadores, composta por 16 formandos. No entanto, com a decisão da diretora Ernestina Del Buono Trama, de voltar para a capital paulista, onde fundaria outra escola, a Academia passou a ser dirigida pelo professor Oscar Rodrigues de Freitas.
No entanto, nos anos seguintes a escola entraria em crise, ocorrendo a mudança na direção, assumida pelo professor Raymundo Ferreira de Aquino, que procurou reerguer a instituição, porém sem obter sucesso, resultando no fechamento da mesma.
No início de 1938, ocorreria o surgimento de outra escola comercial, que posteriormente se tornaria a “Escola Técnica de Comércio Vicente César”, dando início a nova etapa da história do ensino técnico em Bebedouro, o que será abordado em outro artigo.
Publicado na edição 10.702, de sábado a terça-feira, 24 a 27 de setembro de 2022.