Academia Comercial de Bebedouro: o início do ensino técnico profissionalizante no município

José Pedro Toniosso

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A educação escolar na década de 1920, em Bebedouro ficou marcada pela expansão da oferta do segmento secundário, com a fundação do Ginásio Luso-Brasileiro em 1922, escola que, quatro anos depois, se tornaria o Ginásio Municipal, em novo prédio e atendendo no regime de internato e externato, mantendo, porém, o ensino pago.

Quanto ao ensino técnico profissional, ainda não havia regulamentação estatal para sua estruturação, mas as mudanças econômicas e sociais que ocorriam, com a crescente urbanização e o surgimento de novas empresas, resultaram na abertura de cursos pela iniciativa privada, principalmente na área comercial.

Anúncio da Academia Comercial publicado no jornal “O Bebedourense”, de 23 de outubro de 1934. (acervo da Gazeta de Bebedouro)

Foi neste contexto que foi fundada em 6 de fevereiro de 1927, a “Escola de Comércio de Bebedouro”, filiada à Escola de Comércio de São Carlos e tendo na direção o professor normalista Octávio Monteiro de Castro, e a contadora Ernestina Del Buono Trama. Inicialmente, a escola funcionava na rua XV de Novembro, esquina com a rua Antônio Alves de Toledo, onde atualmente se localiza a agência dos Correios.

No decorrer deste mesmo ano, o professor Octávio M. de Castro deixou a direção desta escola e com isso foi fundado um novo estabelecimento, a “Academia Comercial de Bebedouro”, localizado à praça Valêncio de Barros, n. 21, tendo Ernestina Del Buono Trama como diretora.

Nos primeiros meses de funcionamento, a escola obteve boa procura. Em agosto, aconteceu a primeira diplomação, de 11 alunos no curso de datilografia e correspondência. Em setembro, havia 48 alunos matriculados no curso de guarda-livros, sendo que em outubro, 40 deles eram examinados diante de uma banca formada pelos professores Julien Fauvel, diretor da Escola de São Carlos; Antônio Godofredo Leistner, diretor do Grupo Escolar de Bebedouro; e João Leite de Camargo, professor do Grupo.

Com o crescente número de alunos, as primeiras instalações ficaram pequenas, o que fez com que a escola mudasse temporariamente para outro endereço, no final da rua Francisco Inácio. No final de 1928, a escola conseguiu o título de “estabelecimento de ensino comercial oficializado e fiscalizado pelo Ministério da Agricultura”, desvinculando-se da Escola de São Carlos.

No ano seguinte foi eleita a primeira diretoria da Academia, empossada por ocasião da inauguração do novo prédio, um sobrado na rua Prudente de Moraes, n. 503, construído especialmente para a escola. Faziam parte da diretoria, Cel. Raul Furquim, como presidente; Antônio Alves de Toledo, vice-presidente; Ernestina Del Buono Trama, diretora; José Lopes de Castro Moreira, vice-diretor; Oswaldo Orico, fiscal do governo; Benedicto Trama, secretário. O corpo docente era formado pelos professores Antonio Godofredo Leistner, Raul Paiva Castro, Alexandre Valvano e Lívio Teixeira.

Em novembro de 1930, como um dos primeiros atos do Governo Provisório de Getúlio Vargas, ocorreu a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, e no ano seguinte foram sancionados diversos decretos para organizar o ensino secundário. O Decreto n. 20.158, regulamentou a profissão de contador e organizou o curso técnico de comércio em duas partes: a primeira de caráter propedêutico e a segunda de habilitação específica.

Com a regulamentação, a escola intensificou a divulgação dos cursos oferecidos, como neste anúncio publicado no jornal “O Colinense”, de janeiro de 1932: “Esta casa de ensino comercial superior, fundada há 7 anos no centro da bela cidade de Bebedouro, em prédio próprio confortável, já expediu diplomas legais a duas turmas de peritos contadores. O seu corpo docente é de alta competência nas matérias que leciona. A instalação da escola é aprimorada, obedecendo a todos os preceitos da pedagogia hodierna e os requisitos de higiene. É Internato, Semi-Internato e Externato. É uma carreira excelente a comerciária, a qual com a lei recém promulgada nivela-se às melhores e mais rendosas profissões.”

Em dezembro de 1930, a Academia realizou a colação de grau da 1ª Turma de Contadores, composta por 16 formandos. No entanto, com a decisão da diretora Ernestina Del Buono Trama, de voltar para a capital paulista, onde fundaria outra escola, a Academia passou a ser dirigida pelo professor Oscar Rodrigues de Freitas.

No entanto, nos anos seguintes a escola entraria em crise, ocorrendo a mudança na direção, assumida pelo professor Raymundo Ferreira de Aquino, que procurou reerguer a instituição, porém sem obter sucesso, resultando no fechamento da mesma.

No início de 1938, ocorreria o surgimento de outra escola comercial, que posteriormente se tornaria a “Escola Técnica de Comércio Vicente César”, dando início a nova etapa da história do ensino técnico em Bebedouro, o que será abordado em outro artigo.

Publicado na edição 10.702, de sábado a terça-feira, 24 a 27 de setembro de 2022.