Alô, Alô Marciano

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Com 34 anos de existência, a letra ainda é atual

Elis Regina era a estrela da MPB com sucesso consagrado. Rita Lee era a expoente do rock nacional. O encontro destas duas, só poderia resultar na grande letra “Alô, alô Marciano”, composta em 1980, que poderia ter se tornado uma canção datada, mas 34 anos depois, ainda parece atual.
Antes de comentar a letra é importante ver o contexto da aproximação das duas cantoras. Em 1976, em plena Ditadura Militar, Rita Lee foi presa por posse de maconha. A única artista que teve coragem de visitá-la na cadeia foi Elis Regina, sensibilizada pelo fato da cantora de rock estar grávida.
Em liberdade, em parceria com o esposo Roberto Carvalho, Rita compôs Alô, Alô Marciano, no começo da década de 80, um ano após a Anistia Geral, promovida pelos militares como primeiro passo do processo gradual de redemocratização do Brasil.
Pressionado por outros países, pelas manifestações, greves e principalmente pela crise financeira provocada pela alta dos preços dos barris de petróleo, os militares resolveram devolver o poder à sociedade civil. Mas ainda havia clima de medo pelo patrulhamento dos ditadores, mas também da esquerda, em cima dos artistas. O próprio Raul Seixas reclamava da cobrança por fazer música de protesto, quando ele queria apenas cantar outros assuntos.
“Tem sempre um aiatolá pra atolar Alá”. No Irã, caia o Xá Reza Pahlavi, substituído pelo Aiatolá Khomeini, na Revolução Islâmica de 1979, quando até americanos foram feitos reféns.
Três décadas se passaram, a guerra fria acabou no papel, União Soviética tornou-se Rússia, não menos poderosa e perigosa. O clima entre EUA e Irã ainda anda tenso. Tá cada vez mais down o high society. E com a gradual crise do Real, está cada vez mais difícil para a Alta Sociedade. A bagunça continua com muitas manifestações, contra a Copa e todos. E se um marciano pousasse agora na Terra, a letra seria perfeita para explicar aos visitantes extraterrenos como andam as coisas por aqui. Se bem que o recado era para os terráqueos que acham que está tudo perfeito.

Publicado na edição nº 9668, dos dias 11 e 12 de março de 2014.