No final da década de 1960, o acesso à televisão ainda era restrito à minoria, principalmente, nas cidades do interior, mas o comunicador Silvio Santos já despontava como um dos principais líderes de audiência com os vários quadros que apresentava em seu programa.
Um destes quadros, “Cidade contra Cidade”, foi lançado em 1968 na extinta TV Tupi, permanecendo no ar até 1971 e retornando à programação da mesma emissora no período entre 1977 e 1980, e depois, entre 1988 e 1989, no SBT.
A proposta do programa era promover uma competição entre duas cidades que eram convidadas, numa espécie de gincana em que havia várias provas a serem cumpridas, explorando talentos e curiosidades dos municípios participantes, as provas valiam pontos e quem vencesse a disputa recebia um prêmio.
A cidade de Bebedouro participou de duas edições do programa, a primeira em 1968, quando disputou contra Jundiaí. Na ocasião, o radialista Hely Simões fez a inscrição e atuou como coordenador da equipe bebedourense, que teve que cumprir diversas tarefas, incluindo prova de pênaltis, misses, previsões astrológicas, jogo da palavras, apresentação de cantora, entre outras. Cada cidade deveria arrecadar envelopes com 100 cruzeiros velhos e entregá-los na emissora, sendo o valor arrecadado doado para a Santa Casa da cidade oponente.
Transmitido ao vivo, na noite de 27 de dezembro, o programa terminou com a vitória da cidade de Jundiaí, apesar de Bebedouro ter realizado todas as tarefas, inclusive com maior arrecadação para a Santa Casa de Jundiaí, que recebeu 43.500 envelopes contendo 100 cruzeiros; enquanto a de Bebedouro recebeu 36 mil envelopes com igual valor. O resultado foi definido com a prova do “jogo das palavras”, na qual Jundiaí saiu vencedora.
Dez anos depois, Bebedouro participou novamente do “Cidade contra Cidade” após a inscrição feita por Hely Simões. Para coordenar a equipe organizadora juntamente com o radialista, o prefeito Hélio Bastos indicou o prof. Lellis do Amaral Campos.
O programa passara por grande remodelação, com novas provas, filmagem de pontos turísticos, tudo era gravado previamente, antes de ser exibido. A produção do programa definiu a cidade de Limeira como a oponente de Bebedouro, realizando a gravação em 29 de janeiro e transmissão no dia 1º de fevereiro.
Eram várias as provas a serem cumpridas, incluindo a apresentação de um cantor ou cantora, um nadador ou nadadora, um jogador e um goleiro, apresentação de um quadro livre, uma curiosidade da cidade, organização de uma obra beneficente, desfile de miss, um atleta para uma corrida de 1500 metros, três estudantes para prova de conhecimentos gerais, prova de elegância, além de uma prova surpresa sorteada pela produção. Como exigência, todos os participantes deveriam ser nascidos na cidade que representavam.
Na data marcada para a gravação, a caravana com mais de duzentos bebedourenses, entre público, coordenadores e participantes das gincanas, dirigiu-se para o Teatro Manoel da Nóbrega, na capital paulista. Após a realização do tradicional “Show de Calouros”, teve início o “Cidade contra Cidade”, com aflorada rivalidade entre as duas representações, ambas exaltando a glória de serem a “Capital Nacional da Laranja”.
Para decepção dos bebedourenses, ao final do programa e tendo cumprido todas as provas, o saldo foi favorável para Limeira, que obteve 23 pontos, enquanto Bebedouro ficou com 15 pontos, e apesar dos protestos dos organizadores quanto à atuação dos jurados, não houve mudança no resultado.
No entanto, além da decepção com a derrota, outra estava por vir. Ciente do resultado, a população esperava ansiosamente para assistir o programa, apreciando a performance dos conterrâneos e fazendo sua própria avaliação. Eis que ao ligarem os televisores, momentos antes do início do programa, nada de transmissão, simplesmente a TV Tupi estava “fora do ar” e assim permaneceu até o final da noite daquele domingo.
Mesmo diante dos protestos e dos pedidos para que o programa fosse reprisado em outra data, não teve jeito, os bebedourenses não puderam assistir ao programa. Nos idos de 1970, não havia videocassete, muitos televisores ainda eram em preto e branco, nada era digitalizado. Possivelmente a gravação que foi levada ao ar foi perdida com o tempo e restou apenas o que foi preservado pela memória e registrado pela imprensa.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)
Publicado na edição 10.776, sábado a terça-feira, 29 a 31 de julho e 1º de agosto de 2023