No início do século passado, a Igreja Católica do Brasil procurou incrementar a participação dos leigos em diversas organizações sociais vinculadas a diferentes setores, envolvendo principalmente a classe média urbana. Entre os movimentos criados estavam a Liga Brasileira das Senhoras Católicas (1910), Congregação Mariana (1924) e os Círculos Operários (1930), com núcleos espalhados por todo o país.
A criação dos Círculos Operários foi inspirada na Carta Encíclica Rerum Novarum, do papa Leão XIII, lançada em 1891 e que apresentava reflexões sobre as condições dos trabalhadores, defendendo justiça social não pela luta de classes, mas sim pela concórdia entre ambas, em oposição ao socialismo, mas também ao liberalismo.
No contexto brasileiro, relaciona-se também com a chegada de Getúlio Vargas ao poder e início do projeto político que incluía novas relações com os trabalhadores, o que resultou na intervenção nos sindicatos e elaboração de legislação trabalhista.
Nesse novo arranjo político, os Círculos Operários, enquanto organizações de direito civil sem fins lucrativos, passaram a colaborar no processo de disciplinamento dos trabalhadores, atuando como mediadores de conflitos, em consonância com premissas do Ministério do Trabalho, também recém-criado.
O primeiro Círculo Operário brasileiro surgiu em março de 1932, em Pelotas (RS). Em Bebedouro, foi fundado em 20 de fevereiro de 1942, sendo filiado à Federação dos Círculos Operários do Estado de SP e à Confederação Nacional de Operários Católicos, sendo Órgão Técnico e Consultivo do Ministério do Trabalho.
A primeira diretoria do Círculo de Bebedouro foi assim constituída: assistente eclesiástico: Pe. Fr. Manoel Gonçalves; presidente: Eugênio de Oliveira Silva; vice-presidente: João Cirilo Pereira; 1º e 2º secretários: Ítalo Consoni e Ângelo Franchini; 1º e 2º tesoureiros: Eurico de Souza Lima e Roque Garcia; delegado geral: José Ferreira Portugal.
Inicialmente funcionou à rua Dr. Brandão Veras, sendo estruturado com os seguintes departamentos: Jurídico, de Assistência Social, Cultural, de Educação e Recreativo. Na sequência, mudou-se para praça Barão do Rio Branco, 40, onde iniciou a prestação de diversos serviços: “Biblioteca Dr. Prudente de Morais”; “Escola de Alfabetização Dr. Marcondes Filho”; “Escola de Corte e Costura Santo Agostinho”; Gabinete Dentário; além de convênios médicos e comerciais.
Entre os primeiros eventos comemorativos, o 1º de Maio, Dia do Trabalho, recebia as maiores atenções, conforme se verifica na programação de 1943: missa na Igreja Matriz; desfile operário pelas ruas centrais; jogo de futebol; sessão solene com palestra do Juiz de Direito da Comarca.
Com a consolidação do movimento em Bebedouro foi possível a aquisição da sede própria na rua Francisco Inácio, 231, onde permaneceria até seu fechamento.
A cerimônia de inauguração ocorreu em 9 de outubro de 1949, com o corte da fita simbólica, discursos de diversos oradores, incluindo Felipe Ferreira de Menezes, presidente da Federação dos Círculos Operários; deputado estadual Cunha Bueno; e frei Roque Biscione, assistente eclesiástico. O evento foi finalizado com confraternização.
Em dezembro daquele ano, ocorreu o lançamento de campanha para ampliação do quadro associativo, que seria realizada nos primeiros meses de 1950. Para despertar o interesse dos potenciais novos sócios foi publicada na imprensa uma lista com dezessete “vantagens que proporciona o Círculo Operário ao trabalhador”.
Entre elas, além das prestações de serviços já citados, incluíam-se: aulas de círculos de estudos sobre deveres e direitos junto à sociedade; descontos nos serviços religiosos como batizados, casamentos e outros; festa de Natal dos filhos dos circulistas; Departamento Jurídico para assistência nas questões trabalhistas; auxílio com as despesas dos filhos recém-nascidos dos circulistas; entre outros.
Em fevereiro de 1950, o Círculo Operário de Bebedouro foi reconhecido como entidade de utilidade pública, pela Lei n. 642, da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Porém, nas décadas seguintes, na medida em que ocorreu processo de laicização da sociedade e mudanças nas relações de trabalho, assim como outros, o Círculo Operário local foi fragilizado, o que levou ao seu encerramento.
Atualmente, a Federação dos Trabalhadores Cristãos do Estado de São Paulo reúne 22 círculos operários ou de trabalhadores cristãos, não apenas católicos, na capital e no interior. Entre os mais próximos de Bebedouro, permanecem ativos os de Ribeirão Preto, fundado em 1942; Taquaritinga, de 1946; e S. J. do Rio Preto, de 1947.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense)
Publicado na edição 10.707, de sábado a terça-feira, 15 a 18 de outubro de 2022.