Jocelyn Carlos de Godoy nasceu em 1866, em Pirassununga e teve uma sólida formação em escolas de Itu, Campinas e São Paulo, o que lhe possibilitou a atuação como jornalista em sua cidade natal, onde conquistou desafetos devido ao seu posicionamento republicano e abolicionista.
Durante os anos de 1890 esteve em Paris, onde cursou Arquitetura e Direito. Ao voltar para o Brasil, fixou-se no Rio de Janeiro, seguindo a carreira jornalística, em diversos jornais da capital.
Em 1897, devido a problemas de saúde, Jocelyn mudou-se para o interior paulista, atuando profissionalmente em Jaboticabal e em Bebedouro. Nesta cidade foi professor dos filhos do Coronel Eduardo Pereira da Silva, e em fevereiro de 1900, ocupou pela primeira vez a tribuna da defensoria do Tribunal do Júri.
Residindo em Jaboticabal, conseguiu destaque nas diversas áreas em que atuou, notadamente no jornalismo e no direito. No campo político, disputou uma cadeira da Câmara nas eleições de 1913, sendo o único candidato eleito da oposição. Destaca-se ainda sua atuação como membro da Loja Maçônica “Fé e Perseverança”, daquela cidade.
O falecimento de Jocelyn em 22 de julho de 1918, causou grande comoção entre os jaboticabalenses, que compareceram de forma expressiva nos funerais e no sepultamento. Nos dias seguintes foi organizada uma Comissão com o objetivo de erigir um busto em uma das praças públicas, em homenagem à sua memória.
Tão logo foi lançada a campanha para levantamento de fundos, o sucesso foi imediato, contando com a intensa participação da população, o que possibilitou a contratação dos serviços do escultor italiano Armando Zago. Finalizada a obra artística, foi feito o pedido para sua instalação em uma das praças à Câmara Municipal que, no entanto, por questões políticas, não autorizou.
Apesar dos inúmeros manifestos contrários à decisão da Câmara, esta não voltou atrás e manteve o veto. Após vários meses de impasse, a Comissão responsável pela homenagem entrou com um pedido junto à Câmara Municipal de Bebedouro, para que a herma fosse instalada em uma praça pública desta cidade.
O pedido foi apreciado e aprovado na sessão de 3 de setembro de 1920, sendo definido que o busto seria instalado na Praça Cel. Conrado Caldeira (atual Nove de Julho). Nas semanas seguintes seguiram-se intensos preparativos para a festa cívica, tanto em Bebedouro como em Jaboticabal.
No início da manhã de 3 de outubro, uma comitiva de 32 mulheres representantes de diversas instituições e segmentos sociais partiram de trem para a cidade de Jaboticabal, sendo acompanhadas pela corporação musical “Lyra Bebedourense”, com 28 componentes.
Em Jaboticabal, foram recebidos pelos membros da Comissão pró-herma, “Banda Mascagni” e populares. Todos se dirigiram à redação do jornal “O Democrata” onde se encontrava o busto de Jocelyn e em seguida, numa espécie de procissão cívica, voltaram à estação ferroviária, de onde partiram rumo a Bebedouro.
Quando a comitiva chegou à estação local, ela estava tomada pelo povo, sendo recebida pelos coronéis João Manoel e Abílio Manoel, chefes do Partido Republicano; coronel Raul Furquim, prefeito municipal, e coronel Abílio Alves Marques, presidente da Câmara Municipal.
Logo se organizou o préstito em direção à praça Cel. Conrado Caldeira, onde aconteceria o assentamento do busto. Ao chegarem às escadarias que levam ao centro da cidade, foram recebidos pelo batalhão infantil do Gymnásio Syrio-Brasileiro de Barretos, cujos 87 alunos elegantemente uniformizados, entoaram a Canção do Soldado.
Chegando à Praça, toda enfeitada e embandeirada, o busto que estava envolto por uma bandeira nacional foi descoberto pelo prefeito e colocado sobre o pedestal que fora construído, sendo queimada bateria de 21 tiros. Na sequência, o Hino Nacional foi executado por todas as bandas musicais presentes, e, seguidamente, vários discursos foram proferidos, tudo sob efusivos aplausos do povo.
A festa cívica estendeu-se até o final da tarde e à noite ocorreu um baile para público seleto no salão do Theatro Odeon.
A herma de Jocelyn de Godoy permaneceu na Praça Cel. Conrado Caldeira até o ano de 1935, quando foi trasladada para Jaboticabal. Com esse fato, Bebedouro recebeu o cognome de “Cidade Coração”, assunto que será abordado em outro artigo.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense.
www.bebedourohistoriaememoria.com.b).
Publicado na edição 10.753, sábado a terça-feira, 6 a 9 de maio de 2023