Como endurecer sem perder a ternura?

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Uma das expressões que mais gosto é a vitória de Pirro – a história do rei da Macedônia que venceu o exército romano em uma batalha, mas perdeu quase todos seus soldados. Muitas vezes, temos muitas conquistas na vida, mas perdemos também muitas coisas ao longo do trajeto.
De tanto sermos surpreendidos com fatos negativos, não conseguimos mais relaxar. De tanta trapaça, não conseguimos mais confiar. De tantas tristezas vividas, perdemos a capacidade de sorrir fácil. E com a necessidade de sempre estarmos preparados para o que a vida profissional nos exige, esquecemos ou não queremos aprender a dançar. Isto é considerado frescura, perda de tempo.
A luta por ideais de justiça social, contra a corrupção, geralmente cobra seu alto preço de quem a encara. Bem sábio o argentino Che Guevara ao aconselhar que o guerrilheiro deveria ser preparado para enfrentar tudo, sem perder a ternura. Ele dizia isto porque nas batalhas da Revolução Cubana, de tanto ver a morte de perto, facilmente passa-se a esquecer o que é a vida.
Tenho a fama de ter sido líder de uma causa, repórter que enfrentou o prefeito, pessoa que não tem medo de nada e cidadão que nunca se corrompeu. Mas o custo desta postura tenho que admitir, é alto.
Não vibrei com minha formatura, não comemorei nenhuma de minhas promoções e tenho sério bloqueio em aceitar elogios. Nunca acho que o meu trabalho é bom. E sempre penso que poderia ter feito melhor.
Agora, sou obrigado a reaprender a coisa que meu filho sabe fazer naturalmente: ser feliz, e parar de me preocupar com tudo. Vai ser um longo caminho, mas não há outro jeito se eu não quiser chegar ao fim da vida em uma sala cheia de troféus e homenagens, mas completamente isolado.
Aos honestos que se lançaram na briga eleitoral pelos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador, eu, humildemente, aconselho a refletir se estão dispostos a abrir mão da vida pessoal em prol da maioria. E aprendam desde já, que não é preciso sacrificar tudo pelos ideais. Isto é atitude de super-herói. Mas alguém já viu um casado e feliz pai de família? O mundo não precisa de super-homens, precisa de homens de verdade e estes sabem ser felizes.

(Colaboração de Marco Antônio dos Santos, jornalista).

 

Publicado na edição n° 9431, dos dias 31 de julho e 1° de agosto de 2012.