Até o final da década de 1920, todo o núcleo urbano de Bebedouro correspondia a parte do que hoje é a região central, sendo que somente na década seguinte formou-se o primeiro bairro além desta área, com a construção da Vila Paulista nos altos da estrada boiadeira, depois denominada rua Cícero Prates.
Posteriormente surgiu a vila Major Cícero de Carvalho, também acima do Córrego da Consulta, porém, assim como o bairro dos ferroviários, praticamente isolada do centro, interligada apenas por uma ponte precária que na época das chuvas dificultava o trânsito entre os dois lados.
Somente na década de 1960 teve início um grandioso projeto de revitalização daquela área. Inicialmente, durante o primeiro mandato do prefeito Hércules Pereira Hortal (1960-1963), ocorreu a retificação do Córrego da Consulta, no trecho entre a rua São João e os trilhos da Cia. Paulista de Estrada de Ferro, com calçamento do leito e das paredes laterais.
No mesmo período, foram construídas as pontes de concreto sobre este Córrego no prosseguimento das ruas Vicente Paschoal, Brandão Veras, Cel. João Manoel e São João, facilitando a interligação entre a região central e os bairros citados.
Em prosseguimento ao processo de saneamento e urbanização, já na administração do prefeito Sérgio Sessa Stamato (1964-1968), foi publicado decreto em 15 de maio de 1965, para desapropriação de cerca de 13.313 metros quadrados da área entre as ruas Vicente Paschoal e São João.
Logo após a publicação deste decreto, a Gazeta de Bebedouro publicou matéria sobre o “magnífico plano de urbanização”, informando que os trabalhos já haviam começado e que “todo aquele terreno inútil, às margens do Córrego da Consulta, numa longa extensão, será transformado em aprazível recanto, cedendo lugar a uma praça pública, uma praça de esportes, bosque e lago.”
Outro decreto foi publicado em 29 de maio, declarando ser de utilidade pública a área de terra entre a margem esquerda do Córrego da Consulta, ruas Bonacorsi, José Francisco Paschoal e São João, de aproximadamente 44.910 metros quadrados, especificamente para a construção do lago artificial.
Iniciadas as obras, a população as acompanhava ansiosamente, tendo em vista o gigantismo de suas dimensões e a gradual transformação da paisagem que anteriormente se caracterizava pela precariedade, com muitos buracos, mato e focos de insetos e animais peçonhentos.
A imprensa local publicou diversas matérias sobre as obras e em uma delas, de julho de 1967, apresentou números grandiosos: “no vertedouro estão sendo gastos 7.000 sacos de cimento, 32 toneladas de ferro, 1.000 m3 de pedra” […], “até o final das obras calcula-se que serão despejados cerca de 70.000 caminhões de terra.”
A previsão para inauguração era o dia 3 de maio de 1968, aniversário do município, mas antes das obras serem concluídas, o local já era visto como ponto de lazer, conforme publicado na imprensa em novembro de 1967: “aos domingos o movimento é grande, com venda de garapa, sorvetes, pipocas, guarda sol aberto, gente que vem de outras cidades, boias, maiôs, barcos, tudo para dar a impressão de uma cidade praieira!”
Na data prevista as obras estavam finalizadas e além do Lago Artificial, foram entregues aos munícipes a avenida marginal, que recebeu o nome de Sérgio Sessa Stamato, as praças e a locomotiva “Maria Fumaça” que circularia na calçada marginal ao lago, em trilhos instalados sobre dormentes oferecidos pela Cia. Paulista.
Na festa inaugural houve a participação de uma verdadeira multidão, formada por moradores da cidade e da região, além de diversas autoridades e convidados, incluindo o representante da empresa de engenharia Geotécnica, de São Paulo, responsável pelo projeto.
Nos anos subsequentes, a região do Lago consolidou-se como o principal ponto de atração turística de Bebedouro, passando por diversas reformas ao longo do tempo, incluindo a ampliação do complexo com a construção da Praça Paula Frassinetti, Parque do Centenário, Sambódromo e demais equipamentos.
Em 2011, a Câmara Municipal aprovou o Projeto de Lei que oficializou o nome de “Lago Artificial Arquiteto e Urbanista João Valente Filho”, ao lago municipal localizado entre a Estação de Captação de Água José Biancardi Neto, do Saaeb, e a comporta da avenida Maria Dias.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)
Publicado na edição 10.759, sábado a terça-feira, 27 a 30 de maio de 2023