Neste mês de fevereiro a coluna “Ciências e Tecnologia” completa 12 anos de vida. A produção foi imperativa: mais de 450 artigos publicados, três livros editados, participação em dois congressos internacionais e realização de um projeto social que distribuiu mais de 3 mil livros gratuitamente para as escolas da região – o Projeto Ler.
Dos mais variados assuntos como o espaço sideral e o universo, o meio-ambiente e a vida sustentável, a medicina e a saúde pública, os cientistas e suas ciências e principalmente os avanços tecnológicos ao longo da existência da humanidade, foram temas explorados nestes longos e derradeiros anos.
Sentimos-nos realmente orgulhosos por poder participar da sociedade de forma a contribuir, singelamente, com o crescimento de sua cultura, e por que não dizer, de sua educação para as ciências. Embora saibamos que transformar temas árduos, comumente aflorados nos corredores das academias e institutos de pesquisa, em narrações de arquitetura simples e envolvente não seja tarefa fácil, entendemos o cumprimento de nossa missão.
Revendo a história
Ao voltarmos um pouco no tempo, precisamente há 50 anos, recordamos as previsões do grande escritor e bioquímico russo naturalizado americano Isaac Asimov para 2014. A quem não o conhece, Asimov foi o grande responsável por popularizar a idéia de robôs vivendo em consonância com os humanos, numa relação amigável e bem interativa. Do seu livro “Eu robô” foi produzido o filme homônimo de grande sucesso mundial.
Em 1964, Asimov escreveu um artigo no jornal The New York Times refletindo sobre quais seriam as tecnologias em evidência em 2014. Embora nesses últimos 50 anos a tecnologia tenha evoluído com a rapidez de um raio em tempestades de verão, nem todas as previsões se concretizaram. Por exemplo, carros que voam por propulsores a ar ou cozinhas que preparam o alimento somente com um pedido pessoal ainda residem apenas no imaginário humano. Mas a telefonia celular e os painéis solares se tornaram peças praticamente indispensáveis do cotidiano.
Entrando em uma nova era
Se os carros alados e as cozinhas auto-instrumentadas ainda são promessas de futuro, para 2014 a realidade anunciada vem a galope. Peguemos o exemplo da revista Nature, uma das mais prestigiadas publicações para a ciência no mundo. Uma de suas últimas edições dá conta de dez trabalhos que devem ser acompanhados neste ano e que trarão alta relevância científica e social. Pesquisas sobre a cura para o vírus HIV são um dos destaques, mas a busca por medicamentos para a cura do câncer, a regeneração das células-tronco e a criação de novas formas de energia renovável também são pauta do dia.
Nós brasileiros orgulhosamente temos um representante na lista. Trata-se do neurocientista Miguel Nicolelis, pesquisador da Universidade de Duke nos Estados Unidos, que está há anos envolvido em um projeto para desenvolver um exoesqueleto que permite pessoas paraplégicas voltarem a andar. A propósito, quer ele abrir a Copa do Mundo deste ano com um chute inicial de um paraplégico vestido com o seu exoesqueleto. Se conseguir, será um bom passo para o Prêmio Nobel.
As fossas latentes
Embora a evolução da ciência e da tecnologia ignore relativamente quaisquer freios de mão perpetrados pela variação do humor econômico no mundo, a desigualdade social e a fragilidade da educação no Brasil transformam nosso povo em dependentes cordeiros de uma possível força divina que o impede de colher os frutos dessa evolução.
Ainda existem mais de 3,5 milhões de crianças fora da escola trabalhando como escravas da fome. Outros milhões que a freqüentam não têm a mínima base de conhecimento para exercer a simples cidadania. A canalha política, que poderia evitar esse desastre afrontoso, em um 2014 de eleições certamente vai tripudiar sobre o assunto prometendo a promessa não cumprida realizada nas eleições passadas, a qual certamente virará vapor durante o novo mandato. É difícil acordar todos os dias e não sentir vergonha desses números. A bem da verdade, são brasileiros literalmente descartados como lixo social.
Que venha a Copa do Mundo e viva o futebol, mas já passou a hora de ficarmos somente na torcida contando com uma grande esperança.
Publicado na edição nº 9658, dias 13 e 14 de fevereiro de 2014.