A época é de consumo exacerbado. São 40 milhões de brasileiros que ascenderam socialmente na última década, ávidos por ter tudo aquilo que cansaram de ver nas vitrines das lojas, nas propagandas da televisão e nos outdoors das grandes avenidas. Roupas, eletrônicos, muita comida e bebida se tornaram irresistíveis frente ao poder do crédito fácil e abundante. É fato que enquanto a economia se mantiver estável, esse movimento consumista tende a continuar, senão, a aumentar. E na sua esteira, surgem naturalmente os efeitos colaterais, imponentes para uma nação que visivelmente não se preparou para tamanho desafio.
Vejamos em números. Nos últimos dez anos a população brasileira cresceu pouco mais de 9%. Já o volume de lixo produzido aumentou, no mesmo período, mais de 20%. São 273 mil toneladas de lixo produzidas por dia ou 61 milhões por ano. Dessas, 21 milhões de toneladas são descartadas em locais inadequados, o suficiente para encher 168 estádios de futebol. É uma afronta à natureza, e pior, sem solução imediata.
Iniciativas importantes
Para diminuir os efeitos degradantes da natureza diante do furacão do consumo, algumas iniciativas têm pautado instituições de pesquisa nos últimos anos. Uma delas uniu a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade do Minho, de Portugal. Trata-se da criação de filmes e revestimentos comestíveis em escala micrométrica e nanométrica para fins alimentares.
Os nanofilmes ou nanorrevestimentos comestíveis são películas finas, incolores e invisíveis a olho nu que envolvem completamente o alimento. São formados por várias camadas de polímeros naturais obtidos da carapaça de crustáceos, das algas marinhas e da goma do cajueiro, entre outras fontes. Como possuem baixas calorias, podem ser ingeridas por diabéticos sem nenhuma conseqüência. E uma vez ingeridas, não são metabolizadas pelo organismo humano e sua passagem pelo trato intestinal é inócua.
Além da evidente contribuição ao meio-ambiente, a iniciativa tem por objetivo ajudar a reduzir o desperdício de frutas e verduras, que no Brasil chega a 35% da produção nacional, de acordo com o Ministério da Agricultura.
Uma roupa sustentável para o sanduíche
Outra iniciativa que se destaca, essa vinda de uma rede de fast-food mundialmente conhecida, surgiu recentemente no sentido de diminuir a quantidade de embalagens de papel indesejadas e descartadas ao final do consumo do alimento por ela produzida e comercializada.
Embora o fast-food não seja o tipo de comida mais saudável, chegando às vezes ser extremamente gorduroso e nocivo à saúde, é por demais consumido principalmente por pessoas que desejam fazer refeições rápidas e descompromissadas.
Ainda em fase de testes, a nova embalagem é produzida por matéria prima vinda do açúcar e do arroz e pode ser ingerida normalmente junto com o sanduíche que ela recobre.
Para um consumo sustentável
Seria hipocrisia imaginar que para manter-se a sustentabilidade do meio-ambiente dever-se-ia simplesmente diminuir o ímpeto do consumo. Até poderia ser um caminho considerado, mas mais importante do que isso seria, primeiro, prover educação ambiental para uma população desavisada; segundo, criar uma infraestrutura adequada de recolhimento de lixo e demais resíduos descartados; e terceiro, realizar a reciclagem desse material, o que fecharia o ciclo da sustentabilidade com chave de ouro.
O Brasil, a despeito de iniciativas de extremo valor, ainda carece de uma sistematização nacional que regulamente esse fatídico cenário que se degrada com o passar do tempo. A nossa classe política aliada aos grandes empresários, que poderiam juntar forças para criar e por em prática políticas de regulamentação, ao que tudo indica estão somente tangenciando a questão. Resta-nos, a cada brasileiro, tentar então fazer uma partezinha desse trabalho, expressando a nossa consciência de cidadão e cuidando melhor do nosso meio-ambiente.
Publicado na edição nº 9686, dos dias 24 e 25 de abril de 2014.