Fachada do Cine Teatro Rio Branco, na década de 1950, época em que recebeu diversos artistas da era de ouro do rádio.

Inaugurado em janeiro de 1913, com o prédio ainda inacabado, além dos filmes mudos e depois sonorizados, o Theatro Rio Branco foi por muitos anos o palco de inúmeros espetáculos, incluindo peças teatrais de companhias afamadas, que faziam suas turnês pelas principais cidades do interior, como também de grupos locais ou regionais.

Na era de ouro do rádio, nas décadas de 1940 e 1950, o estabelecimento passou a receber diversos artistas que faziam sucesso nas principais emissoras. Nomes de grande expressão eram esperados com muita ansiedade pelo público e a imprensa local registrou vários destes espetáculos.

Em julho de 1940, por exemplo, o Rio Branco recebeu o cantor e compositor Vicente Celestino, cuja apresentação, no entanto, não atendeu as expectativas do público conforme noticiou a Gazeta de Bebedouro: Nas noites de terça e quarta-feira, a plateia do Theatro Rio Branco aplaudiu o interessante grupo de artistas chefiado pelo tenor Vicente Celestino. É lamentável, porém, a pobreza de cenários e de organização com que frequentemente se apresentam, ao nosso público, os tais conjuntos.

Mas geralmente os espetáculos eram muito aplaudidos e para viabilizar a vinda dos artistas de maior renome, contava-se com o apoio de empresas locais, como noticiou A Vanguarda, em outubro de 1948: os bebedourenses terão o ensejo de presenciar, na noite de amanhã, a um belo espetáculo do apreciado artista patrício Carlos Galhardo, o rei da valsa. A apresentação (…) deve-se ainda a gentileza de diversas firmas que tomaram o patrocínio de sua vinda.

No início da década de 1950 o prédio do “Rio Branco” passou por uma grande reforma, que resultou em significativa mudança na fachada original do prédio, de estilo eclético e com vários elementos clássicos. Desta forma, em março de 1951 o estabelecimento foi reinaugurado com o nome de “Cine Teatro Rio Branco”, de propriedade da empresa “Canettieri e Trondi”.

Em julho de 1953 a imprensa noticiou a vinda dos consagrados cantores românticos Jorge Goulart e Nora Ney, artistas exclusivos da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. O Teatro Rio Branco abre-se hoje em noite de gala, para o festival dos dois consagrados artistas. Após o programa de arte, será exibido o filme “Regresso do Inferno”.

Conforme indicado, a realização dos shows musicais não significava o cancelamento das sessões de cinema, pois estas eram sempre realizadas na sequência, ou seja, na mesma noite havia as apresentações musicais e a exibição de um filme.

Em outubro do mesmo ano a casa recebeu mais um artista de renome, assim registrado pela Gazeta: estará em Bebedouro, para um grandioso espetáculo no palco do Cine Teatro Rio Branco, o famoso barítono Carlos Ramirez, apreciado astro da Metro. Tomarão parte deste festival, Teresina Saraceni, bela cantora da Rádio Tupy e Tv, Irmãos Wilians, sensacionais acrobatas, e Dinás Ballet, quatro bailarinas clássicas. O espetáculo que será abrilhantado pela Orquestra da Boite Lord, terminará com exibição do filme “Crê em mim, amor”.

No início do ano seguinte, foi noticiado mais um “festival de palco e tela”, com a presença no palco, de Gregório Barrios, cognominado “O cantor das multidões”, que pela primeira vez visitará nossa cidade. Na tela, será exibido o filme “O pirata”, em tecnicolor. Aplaudido, cantor de fama mundial, atrairá, por certo, grande assistência.

Em agosto de 1954, a empresa Canetieri & Trondi promoveu a vinda de outra artista afamada: Em um único espetáculo, Dalva de Oliveira, a apreciada e aplaudida cantora do rádio brasileiro, exibir-se-á, à plateia bebedourense, na próxima terça-feira, acompanhada de mais outros 17 artistas.

Ainda no mesmo mês houve mais um “espetáculo de palco e tela” com a Orquestra Tabajara, de Severino Araújo, formada por 20 músicos, contando também com a participação de artistas como Zilá Fonseca, Jamelão e Jair Alves. Após o espetáculo, na tela, mais um filme de sucesso.

A partir da década de 1960, gradativamente o rádio cedeu lugar para a televisão, o que reduziu também os espetáculos antes realizados. Entre 1969 e 1970, o Rio Branco passou por outra grande reforma, que incluiu a eliminação do palco e, desta forma, o estabelecimento passou a ser denominado “Cine Rio Branco”, voltado apenas para a exibição de filmes.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).

Publicado na edição 10.875, de sábado a sexta-feira, 21 a 28 de setembro de 2024 – Ano 100