Expedicionários bebedourenses na Segunda Guerra Mundial e as homenagens no retorno à terra natal

José Pedro Toniosso

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Expedicionário bebedourense - Ruy Caldeira Ferraz, 1º tenente da FEB, em campo de batalha no norte da Itália, junto ao carro usado no front, batizado com o nome de “Bebedouro”.

Nos primeiros anos após a eclosão da Segunda Guerra Mundial o governo de Getúlio Vargas assumiu posição de neutralidade, diante dos dois blocos beligerantes, embora houvesse defensores de ambos, gerando clima de ambiguidade. Porém a entrada dos Estados Unidos na Guerra, em fins de 1941, fez com que o Brasil se definisse pelo rompimento de relações com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e pela assinatura de acordo político-militar com os norte-americanos.

Desta forma, o alinhamento brasileiro com os países aliados resultou na criação da Força Expedicionária Brasileira – FEB, que a partir de 30 de junho de 1944, enviou sucessivas tropas para lutarem na Itália contra as forças nazifascistas até o fim do conflito naquele país, em 2 de maio de 1945. Seguiram para a Guerra cerca de 25 mil soldados brasileiros, de todas as regiões do país, inclusive de Bebedouro.

De acordo com os registros da imprensa local, houve a participação de onze expedicionários bebedourenses, sendo eles: Armando Pianta, Benedito Scalon, Constantino G. Pereira, Durval Barbosa, Franklin Queirós, José Moreno, Júlio Batista, Juvêncio Francisco Góis, Ruy Caldeira Ferraz, Murilo de Barros e Antônio Rodrigues Lemos.

Depois de meses de tensão, esta foi interrompida com notícia da rendição dos inimigos no dia 7 de maio. Tão logo teve acesso à informação, o povo saiu às ruas vibrando de entusiasmo, numa verdadeira festa que reuniu todas as entidades locais. Diversos oradores se manifestaram e foram aplaudidos pela multidão que se concentrou inicialmente em frente à Prefeitura e depois seguiu para a praça Barão do Rio Branco, parando durante o trajeto em frente às casas das famílias de alguns expedicionários. Na porta da Igreja Matriz foi organizado um altar para celebração de ação de graças. Em seguida foi realizada sessão cívica no coreto do jardim onde, além dos oradores, houve muita música, fogos, luzes, enfim, uma grandiosa festa.

Nas semanas seguintes, a Prefeitura Municipal, juntamente com o Centro Municipal da Legião Brasileira de Assistência, preparou recepção em homenagem aos soldados bebedourenses que haviam participado da guerra. Como o retorno dos expedicionários ocorreu de forma dispersa, ficou definido que as festividades aconteceriam na data em que o último chegasse, sendo estabelecido o dia 16 de outubro.

Na referida data, a cidade amanheceu em clima de festa, com ruas, praças, estabelecimentos comerciais, escolas e residências ornamentadas com bandeiras, enfeites, adornos, flores e plantas naturais. Às 8 horas, a multidão ocupou a área em frente à Estação Ferroviária, a escadaria de acesso ao centro e a extensão da rua Prudente de Moraes até a praça central. O desembarque dos expedicionários ocorreu sob a aclamação do povo e a execução do Hino Nacional por corporação musical.

Estavam presentes todas as autoridades locais, que junto com o povo acompanhou o cortejo, que contou também com a participação dos alunos do Colégio Municipal, Colégio Anjo da Guarda, Escola Técnica de Comércio e Grupos Escolares Abílio Manoel e Conrado Caldeira, além de delegações das associações esportivas e de classe.

No trajeto rumo à Praça Rio Branco, o cortejo passou por um Arco do Triunfo construído pelo Esporte Clube Paulista e outro preparado pela Prefeitura, ambos homenageando os expedicionários. Na praça, em frente à Igreja Matriz, ocorreu missa campal, celebrada pelo Monsenhor Aristides da Silveira Leite e, em seguida, discursos de oradores, entrega de medalhas e álbuns preparados pelos alunos dos grupos escolares.

Na sequência da extensa programação, após o plantio de uma árvore simbólica naquela praça, o cortejo seguiu até a praça Valêncio de Barros, onde ocorreu o lançamento da pedra fundamental de um monumento em homenagem à FEB. Completando os festejos, foi oferecido almoço aos pracinhas e seus familiares e à noite, na sede do Bebedouro Clube, ocorreu o Baile da Glória, finalizando as festividades.

Décadas depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a memória aos soldados bebedourenses que dela participaram segue apagada, tendo em vista que não há nenhum registro oficial sobre o fato histórico, sendo que o monumento comemorativo que fora planejado, inclusive com o lançamento da pedra fundamental, ao que tudo indica não chegou a ser construído, ou ao menos, não se faz presente na praça pública conforme fora previsto.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense).

Publicado na Gazeta de Bebedouro, edição 10.685, de sábado a terça-feira, 23 a 26 de julho de 2022.