Fanatismo e Ecologia

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Antônio Carlos Álvares da Silva

Já contei aqui, tempos atrás, o depoimento do poeta Ferreira Gullar dado à TV Cultura, sobre episódios acontecidos, durante o regime militar. Gullar pertencia ao Partido Comunista Brasileiro, que se opunha ao governo. Ele contou, que a cúpula do partidão pretendia tomar o poder dos generais. Em certa época, concluíram, que só conseguiriam atingir esse objetivo, através da luta armada. Essa luta seria pela guerrilha urbana e rural, como tinha acontecido em 1959, com Fidel Castro, em Cuba. Gullar esteve presente na reunião, que discutiu a estratégia de fazer a guerrilha urbana (assaltos a bancos e ataques às bases militares) e a guerrilha rural (acampamentos na floresta, aliciamento do povo e ataques às fazendas). Posto a par dessa estratégia, Gullar argumentou: Vocês vão enfrentar o Exército, a Marinha, a Aeronáutica e as Polícias de todo o Brasil. Elas são organizadas e têm tropas constituídas por milhares de homens, dotados de armas poderosas. Com quem vocês contam, para enfrentar todo esse aparato bélico? Foi lhe respondido que eles esperavam levantar o povo a favor da guerrilha. Então, concluiu: Isso é um sonho. Não existe condição de ser realizado. Estou fora. A conclusão de Gullar aconteceu. Os militantes comunistas e seus simpatizantes (jovens idealistas da classe alta), que não foram mortos, foram presos, ou precisaram fugir. O exemplo mais expressivo dessa empreitada fracassada foi o militar do exército, Carlos Mariguella. Ele desertou do exército e viveu escondido com os padres dominicanos da Aliança Libertadora Nacional, até partir para Bahia. Lá, tentou arregimentar adeptos para invadir fazendas e frigoríficos. Não teve sucesso e acabou perseguido e morto por militares. Mariguella não foi o único. Outros guerrilheiros fracassaram diante das forças armadas. Isso mostra que uma simples crença, sem apoio na realidade, por mais romântica que seja, pode destruir, em vez de construir. Esse relato me voltou à cabeça, porque estou notando, que muitos desses antigos revolucionários, órfãos de um socialismo, que saiu de moda, estão enveredando para uma nova crença, com o mesmo divórcio da realidade. Agora, fanaticamente, no afã de defender a ecologia, estão investindo contra quem só quer produzir e viver. O último exemplo aconteceu em Mato Grosso do Sul, na região, que faz divisa com o Paraná. Essa região é a maior produtora de grãos e está em grande progresso. Ela tem encrustadas pequenas reservas demarcadas, que convivem com os fazendeiros, que lá estão há mais de 100 anos. Certamente estimulados por terceiros, em outubro último, 127 índios caiovás, que residiam na aldeia Pyelito, resolveram sair de sua reserva, invadir e ocupar áreas plantadas. Passaram reivindicar toda região produtora – maior que a região entre Bebedouro a Colômbia – como reserva indígena. Seu objetivo é atrair uns milhares de índios caiovás, que são nômades e circulam entre o Brasil e o Paraguai. Estão apoiados pelos padres do CIMI – Conselho Indigenista Missionário – e pela FUNAI. O argumento usado foi o seguinte: A Terra, onde nasceu, ou estiver enterrado um antepassado dos índios, é reserva natural indígena, mesmo que os agricultores a estejam ocupando há mais de 100 anos. Os agricultores foram à justiça. Esta lhes foi favorável e marcou um prazo para a desocupação. O Conselho Indigenista Missionário rebelou-se contra a ordem judicial. Alegou, que ela equivaleria à “uma morte coletiva dos índios”. Deu a entender, que poderia haver um suicídio coletivo dos invasores. Sensível à pressão levantada, o Tribunal Federal da 3ª Região suspendeu a ordem de despejo. Com isso, a maior região produtora de grãos do Brasil está ameaçada e vai prejudicar milhares de brasileiros que vivem da agricultura – empregados e empregadores. Isso está acontecendo num país, onde 13,2% das terras brasileiras já são constituídas de reservas indígenas, sem grandes benefícios para seus ocupantes. Os índios continuam dependendo de cestas básicas, remédios e assistência médica para sobreviver. O único argumento usado, para a formação da reserva, é absurdo. Se a existência de nascidos e mortos enterrados fosse justificativa, a cidade de São Paulo teria, que virar reserva indígena. É sabido de todos, que o Páteo do Colégio, no centro da cidade, era um aldeia indígena, até a chegada dos padres jesuítas, que formaram a cidade. Não sei, se o prefeito Haddad ficaria bem no papel do cacique. Mas, o Lula iria bem no papel de Pagé. Perdão: Grande Pagé!

(Colaboração de Antônio Carlos Álvares da Silva, advogado bebedourense).

 

Publicado na edição n° 9484, dos dias 8, 9 e 10 de dezembro de 2012.