De acordo com a etimologia, a palavra monumento tem sua origem no latim “monumentum”, derivada de “monere”, que significa advertir, lembrar, instruir. Enquanto elemento histórico pode ser associado com uma construção ou obra artística que visa perpetuar a memória de alguém ou algum fato.
No decorrer do tempo, diversas obras esculturais e arquitetônicas foram inseridas em locais de destaque na paisagem das cidades brasileiras, evidenciando determinadas memórias ou representações de acontecimentos ou personagens históricos.
Em Bebedouro, o primeiro monumento instalado não foi de um personagem relacionado ao contexto local, pois em outubro de 1920, atendendo ao pedido de jaboticalenses, ocorreu a instalação da herma de Jocelyn de Godoy, na então denominada praça Cel. Conrado Caldeira, onde permaneceu por 15 anos, fato que resultou no cognome “Cidade Coração”.
Desde então, os bebedourenses manifestaram a intenção de edificarem esculturas em memória a diversas personalidades locais ou nacionais. Porém, em visita a Bebedouro em maio de 1944, o embaixador José Carlos de Macedo Soares constatou a inexistência de esculturas e apresentou apoio para “se levantar na cidade um monumento que a enfeitasse e perpetuasse no bronze uma das nossas personalidades históricas”.
Proposta aceita, logo foi constituída uma comissão, visando angariar recursos para duas edificações, uma dedicada aos coronéis Abílio Manoel e João Manoel e outra aos “fundadores de Bebedouro”.
A autoria de ambas foi do escultor paulista Luiz Morrone (1906-1998), que ao longo de sua carreira criou centenas de bustos, estátuas e hermas, além do brasão de armas do estado de São Paulo. Em novembro de 1944, o artista esteve em Bebedouro para conversar com a comissão e acertar detalhes sobre as obras.
No monumento aos coronéis Abílio e João Manoel, instalado na Praça Barão do Rio Branco e inaugurado em julho de 1946, ambos são representados em medalhões de bronze, que ladeiam uma alegoria no estilo romano, também em bronze, sob a qual foi inscrito “Aos construtores de Bebedouro. Homenagem do seu povo”.
O segundo monumento, em formato de obelisco, foi erigido na Praça Nove de Julho, tendo em um dos lados, uma alegoria também no estilo romano, sob a qual está escrito “Aos fundadores da cidade. A gratidão de Bebedouro”. Foram inseridos nomes de personalidades consideradas pioneiras na formação do município, como Abílio Manoel, Antônio Venâncio Dinis Junqueira, Sabino Gonçalves da Cruz, Joaquim José de Lima, João Carlos de Almeida Pinto e Rogério Alves de Toledo.
Além destes, ocorreu na década de 1950, a construção de outros três monumentos. Em outubro de 1952 foi inaugurada a herma em homenagem ao Cel. Abílio Alves Marques, localizada no centro da praça que leva o seu nome. A escultura, de autoria do artista Arlindo De Carli (1910-1985), fora doada pela família do homenageado e na placa afixada no pedestal está gravado: “À memória imperecível de Abílio A. Marques, a gratidão do Povo de Bebedouro”.
A escultura dedicada a José de Anchieta, resultou de uma campanha realizada pelas escolas bebedourenses e foi edificada no centro da Praça Valêncio de Barros, sendo também de autoria de Arlindo De Carli. Inaugurado em 15 de outubro de 1953, representa Anchieta na célebre imagem em que escreve versos na areia. Na pequena placa à frente da obra lê-se “Ao 1º Mestre do Brasil – Padre Anchieta – Homenagem do Povo e dos Professores de Bebedouro”.
Por fim, há o monumento do Monsenhor Aristides Silveira Leite, construído com recursos oriundos de campanha feita junto à comunidade católica que se empenhou para viabilizar a deferência àquele que por mais de vinte anos esteve à frente da Paróquia de São João Batista. A obra artística, na qual se lê “Gratidão do Povo de Bebedouro ao seu grande benfeitor”, também teve a autoria do escultor Luiz Morrone, sendo inaugurada em 11 de janeiro de 1959, na praça que leva o nome do homenageado.
Nas décadas posteriores, dezenas de outros monumentos foram edificados. Na perspectiva de que simbolizam aspectos significativos da memória bebedourense, cabe refletir sobre a percepção que a sociedade possui sobre tais personalidades ou fatos, haja vista a tênue relação entre esquecimento e conhecimento histórico que, no presente, impactam na compreensão do passado.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)
Publicado na edição 10.761, quinta a terça-feira, 8 a 13 de junho de 2023 – Ano 99