Morte súbita, comoção geral: Abílio Manoel, 1921

José Pedro Toniosso

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Mausoléu construído no Cemitério de Bebedouro em memória ao Cel. Abílio Manoel. O monumento artístico foi projetado pelo célebre escultor José Pucci e realizado pela empresa João Santine & Irmão, de Campinas. Foto: Kleber Domingos, do grupo “A Arte Tumular e Sacra” (Facebook).

“O Coronel Abílio Manoel morreu!” Esta frase repercutiu intensamente por toda a cidade no início da tarde do dia 17 de janeiro de 1921. Foi uma morte repentina que causou grande pesar, tendo em vista ser uma pessoa benquista por muitos, apontado como um dos maiores filantropos locais em sua época.

Nascido em 21 de agosto de 1866, no distrito de Vila Bela de Umburanas, município de Caetité, no interior da Bahia, Abílio era filho do Coronel João Manoel em suas primeiras núpcias com Fermina Telles da Silva. Aos cinco anos de idade mudou-se com a família para o estado de São Paulo, fixando-se na cidade de São Carlos. Nesta, casou-se em 1892, com Adélia de Castro Manoel, união que resultou no nascimento de quatro filhos: Érico, Abílio e Luiz Manoel, falecidos ainda jovens, e Firmina Manoel Diogo, casada com o advogado Manoel Martins Diogo Júnior.

Mudou-se para Bebedouro em 1893 e nos 28 anos em que residiu nesta cidade teve destacada atuação na vida pública, incluindo, entre outros, a presidência da primeira Câmara Municipal, Juiz de Paz, procurador da Câmara e coletor estadual.

Os dois jornais locais da época deram ampla cobertura ao fato, tanto o situacionista “Jornal de Bebedouro”, que se definia como “Orgam do Partido Republicano” e que dedicou uma edição inteira para o assunto, como o oposicionista “A Vanguarda”, que publicou extensa matéria de duas páginas.

De acordo com o que foi publicado nos dois jornais, naquele dia Abílio Manoel saíra no meio da manhã e andara pela cidade para resolver algumas demandas pessoais. Por volta das doze horas e trinta minutos dirigia-se ao prédio da Câmara, onde atualmente encontra-se a Prefeitura, e ao parar na esquina da rua dos Andradas (atual rua Conrado Caldeira), sofreu um desmaio, sendo amparado pelo capitão Cícero Prates, com quem conversava.

Logo afluíram diversas pessoas que, preocupadas e solícitas, carregaram-no para sua casa, localizada na mesma praça da Câmara (Valêncio de Barros), aonde chegou desfalecido. Apesar do rápido atendimento médico prestado pelos drs. Eugênio de Matos e Gumercindo Godoy, não foi possível reanimá-lo, havendo a constatação do óbito.

Tão logo foi confirmada a notícia, sua casa se encheu de pessoas que queriam apresentar os pêsames à família e desta forma permaneceu pelo resto do dia e durante a noite até a manhã seguinte, sempre lotada de cidadãos de todos os segmentos sociais. Foram muitos os telefonemas e telegramas recebidos, das mais variadas origens, além de diversas delegações de cidades vizinhas.

O falecimento interferiu diretamente na rotina da cidade, tendo sido canceladas aulas nas escolas, sessões de cinema e festejos populares, além do fechamento de estabelecimentos comerciais e industriais e suspensão do expediente nas repartições públicas, pois a Prefeitura decretou feriado por três dias.

A saída do cortejo funeral ocorreu às dez horas da manhã da residência do falecido, onde fora velado. Sempre ladeado pelo Cel. João Manoel, o esquife foi conduzido por diversas autoridades e familiares que se revezaram no trajeto até a Igreja Matriz, onde foi realizada uma missa de corpo presente, celebrada pelo Padre Francisco Garaud.

Na sequência, o féretro seguiu até o cemitério com o acompanhamento de diversas instituições com seus respectivos estandartes, como a Loja Maçônica “Justiça e Amor”, “Centro Espírita do Calvário ao Céu”, a “Colônia Síria” e a “Sociedade Italiana Victor Emanoel 3º”. À frente do cortejo, uma extensa fila de jovens e senhores carregavam as dezenas de coroas de flores enviadas por autoridades, famílias e instituições.

A “Banda Musical Lyra Bebedourense” também acompanhou o féretro, porém em silêncio, enquanto os músicos carregavam seus instrumentais envoltos em crepe. A “Empresa Elétrica” mandou cobrir de luto todas as luminárias das ruas percorridas pela multidão, calculada em mais de duas mil pessoas. Na chegada à necrópole, diversos oradores fizeram comovidos discursos e após o fechamento do esquife, ocorreu o sepultamento.

Nas semanas seguintes expressivas homenagens foram prestadas a Abílio Manoel, incluindo a celebração de diversas missas na Igreja Matriz, sessões brancas na maçonaria local, visitas ao jazigo, campanha pela construção de uma herma e requerimento de alunos e professores do Grupo Escolar ao governo do Estado para que este fosse denominado “Abílio Manoel”, o que se concretizou em agosto de 1937.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)

Publicado na edição 10.794, sábado a quarta-feira, 7 a 11 de outubro de 2023