O despertar para a astronomia

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A apresentação estava marcada para as 14 horas daquele sábado quente. Por volta das 13 já havia uma fila considerável, e eu, que estava com a família, resolvi fazer parte da turma dos curiosos pelo céu noturno. Esperamos então pela abertura das portas e alguns minutos após as 14 horas a fila começou a se movimentar. Logo na entrada nos deparamos com fotografias de estrelas, constelações e galáxias; havia também meteoritos que vieram do espaço e caíram na Terra, bem como pedras da Lua, obtidas pelas missões americanas Apollo; mais ao fundo existiam alguns instrumentos de observação celeste, como lunetas e telescópios.

Embora a vontade fosse de ficar ali observando cada imagem, pedra ou instrumento, tínhamos que andar rápido para entrar na sala de projeções e encontrar um bom lugar para assistir a tão esperada apresentação. A sala, que cheirava a mofo, era completamente escura, salvo a fraca luz artificial emitida por algumas pequenas lâmpadas amarelas no chão, indicadoras do caminho a seguir.

Já sentados e com os olhos quase adaptados à falta de luminosidade, começamos a observar as redondezas numa tentativa de adivinhar como seria a apresentação do céu noturno. No centro da sala havia um grande e estranho aparelho que não fazíamos a menor idéia do que era; ao seu redor, estavam dispostas as cadeiras em filas circulares, numa das quais ficamos sentados. O teto era completamente branco e em forma de abóbada.

 

As luzes

Não havia como não ficar olhando para o teto da sala. Após iniciar-se a apresentação o desfile de imagens era constante e fabuloso. Planetas como Júpiter, o sistema solar, algumas galáxias, enfim, tudo aquilo que não conseguimos enxergar a olho nu no céu noturno estava agora ao nosso alcance. O interessante é que todas as imagens sempre vinham acompanhadas de explicações didáticas, proferidas por um professor de astronomia. Que mundo fascinante era aquele.

O ponto alto da apresentação, no entanto, chegou quando aquela estranha máquina – o planetário – começou a ganhar vida e se encher de luzes, espalhando-as pela extensa abóbada da sala. Para leigos como nós, embora a luminosidade provocasse um belo espetáculo, cada pontinho de luz refletido no teto não passava realmente de um pontinho de luz. Foi somente com a providencial intervenção do professor, que começamos a identificar estrelas, constelações, aglomerados e parte da Via Láctea. As explicações necessariamente passavam pela mitologia grega, já que os gregos batizaram inúmeras constelações do céu noturno com personagens de seu cotidiano. Águia, Leão, Cruzeiro do Sul e muitas outras constelações nos foram apresentadas, cada uma ocupando parte do céu em determinadas épocas do ano, conforme o movimento de translação da Terra.

Em determinada ocasião o apresentador nos chamou a atenção para a fraca luminosidade das estrelas refletidas no céu artificial. Disse ele tratar-se do céu da cidade de São Paulo, cuja poluição e a alta luminosidade das luzes ofuscavam o brilho das estrelas. Ele então disse que nos mostraria o céu noturno de uma cidade do interior e subitamente o brilho daqueles pontinhos de luz ganhou uma intensidade fabulosa que fez eclodir uma estrondosa mistura de aplausos com gritos e assobios, dada a surpresa e perplexidade da platéia diante daquele espetáculo. Nós que moramos em São Paulo, por não termos as estrelas às nossas vistas, nos esquecemos delas. E quando alguém nos lembra, eis o delírio.

 

A história

Planetário é um instrumento óptico-mecânico-eletrônico que reproduz com precisão científica o céu noturno com todos os seus astros e movimentos. Com ele é possível projetar estrelas, planetas, cometas e uma infinidade de elementos do universo. O primeiro planetário do mundo foi construído em Munique na Alemanha em 1923. No Brasil, o planetário do parque do Ibirapuera em São Paulo (local dessa passagem que acabei de contar) foi o pioneiro. Isso se deu em 1954.

Os planetários trazem inúmeros benefícios para a comunidade que deles podem usufruir: servem como centros para divulgação das ciências, como atração cultural e educacional; promovem o interesse da população pela ciência; estimulam os estudantes pelos questionamentos, pelo novo, pelas descobertas nos campos da ciência; promovem o intercâmbio científico entre as áreas de astronomia, geografia, mitologia e várias outras, criando assim um centro de informação e um laboratório científico; e, mais importante, provê a cidadania plena à população.