Este foi o título dado à matéria escrita pela jornalista Natália Flach, de São Paulo, publicada no Jornal Valor Econômico de 18/11/24, referindo-se ao dia 20 de novembro, instituído como feriado nacional em 21/12/23.
O nome oficial do feriado é Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, que não goza de aceitação plena pela sociedade brasileira.
Pessoalmente, estou entre aqueles que consideram esta data polêmica e por um raciocínio simples: como tal, a data comemorativa vai em sentido contrário à pretendida integração dos brasileiros numa sociedade única, igualitária, independente de raça, cor e sexo.
Ao fixar uma data para homenagear os negros e sua imensa contribuição à nação brasileira, estabelece-se um dia no ano para que todas as honras e homenagens sejam feitas.
Poder-se-ia imaginar que ficariam liberados todos os brasileiros não negros, para não considera-los, os negros, dignos de qualquer respeito nos demais 364 dias do ano.
Restaria assim inútil qualquer esforço para se constituir, no Brasil, uma sociedade igualitária.
Um amigo um pouco radical vai além. Considera que, assim sendo, deveria haver uma data para homenagear A Consciência Portuguesa; uma outra data para homenagear a Consciência Espanhola e assim a italiana, a alemã, a japonesa, a libanesa. O que faz um certo sentido.
O fato é que o feriado existe e deve ser respeitado.
Pessoalmente, não farei na data, nada diferente dos demais dias do ano no convívio com meus amigos negros.
Sinto-me confortável pelo respeito e consideração que temos um pelo outro.
Relativo ao Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, devemos nos lembrar que passará a constar, obrigatoriamente, dos currículos escolares do país.
Pensando nestas crianças e nestes jovens e para que possam ter boa formação básica, trago a seguir pequeno histórico dos acontecimentos que motivaram a criação do feriado de 20 de novembro.
Quilombo – o Míni Dicionário Aurelio da Língua Portuguesa, traz a definição: refúgio de escravos fugidos;
Quilombola – aquele que mora em um quilombo;
Zumbi – derivado do termo zumbe, pertencente a um dos muitos idiomas africanos e significa fantasma, alma de pessoa falecida.
No Nordeste brasileiro existiram vários quilombos e o Quilombo dos Palmares foi o maior deles, situado na atual região de União dos Palmares, estado de Alagoas.
Foi fundado em 1580 por escravos fugidos dos engenhos de açúcar.
Foi uma comunidade, um reinado ao modo africano e por volta de 1580,
no seu auge, segundo alguns autores, chegou a ter cerca de trinta mil habitantes e uma extensão territorial equivalente a um terço da área de Portugal.
Seus habitantes mantinham conflito permanente com as forças coloniais e com os portugueses, que, na região, cultivavam cana-de-açúcar e produziam açúcar.
Zumbi nasceu em 1655, na Capitania de Pernambuco, na atual região de União dos Palmares, Alagoas.
Nasceu livre e aos 6 anos de idade foi capturado pelos portugueses e ficou aos cuidados do padre português Antônio Melo. Recebeu os sacramentos e aprendeu português e latim e foi uma espécie de coroinha da Igreja, na nomenclatura atual.
A próxima data de que se tem notícia de Zumbi foi em 1675, aos vinte anos de idade, em uma luta dos quilombolas contra os portugueses, destacando-se pela bravura e gênio militar, segundo vários relatos.
Após lutas internas no quilombo, em 1680 o rei foi deposto e morto, passando então Zumbi a comandar a resistência às tropas coloniais.
As lutas prosseguem e no dia 20 de novembro de 1695, aos quarenta anos de idade, Zumbi foi traído e morto em uma emboscada, juntamente a um grupo de guerreiros.
Sua cabeça foi cortada, salgada e levada ao governador da Capitania de Pernambuco, ficando exposta até apodrecer.
O acontecimento foi muito comemorado pelos portugueses e consta que no mesmo ano, Dom Pedro II, Rei de Portugal na época, premiou com cinquenta mil réis o Capitão Furtado de Mendonça, que comandou a tropa que emboscou, matou e cortou a cabeça de Zumbi.
Estava criado o mito de Zumbi dos Palmares.
(Colaboração de José Mário Paro, produtor rural)
Publicado na edição 10.890, sábado a sexta-feira, 23 a 29 de novembro de 2024 – Ano 100