
O movimento escoteiro foi fundado em 1907, na Inglaterra por Robert Baden-Powell, tendo se espalhado rapidamente por outros países. No Brasil, o escotismo teve início nos primeiros anos da década de 1910, em algumas capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Em Bebedouro, o interesse pelo escotismo teve início em 1915, quando foi organizada a Comissão Regional da Associação Brasileira de Escoteiros, composta dos seguintes membros: Presidente, Raul Furquim; vice-presidente, dr. Paraiso Cavalcanti; tesoureiro, dr. Oscar Werneck; secretário, dr. Jorge Americano. No entanto, esta primeira iniciativa não teve continuidade e dois anos depois passou a ser implantado como programa escolar.
Desta forma, em setembro de 1917, o diretor do Grupo Escolar prof. Francisco Costa Martins recebeu as orientações da Secretaria de Instrução Pública para organizar o escotismo na escola. Inicialmente houve a formação da Comissão Regional de Escoteiros, assim constituída: Presidente, Raul Furquim, Prefeito Municipal; 1º vice-presidente, Cel. Abílio Alves Marques, presidente da Câmara Municipal; 2º vice-presidente, Dr. Oscar Werneck; tesoureiro, Cel. Abílio Manoel; secretário, prof. Júlio de Faria e Souza; vogais, Cel. Eduardo Pereira; Dr. Zacharias Bahia, farmacêutico João da Silveira Cruz, José Augusto de Arruda e Cel. Vicente Paschoal.
Em fevereiro do ano seguinte, já filiada à Associação Brasileira de Escoteiros, havia mais de cinquenta inscritos e a diretoria informou que conseguira recursos para adquirir os uniformes, os quais foram encomendados no “Mappin Stores” da capital paulista, além de tambores e cornetas.
A proposta tinha como objetivo moldar o caráter das crianças por meio do cultivo de valores como civismo, honra, respeito e disciplina, entre outros. As atividades aconteciam semanalmente, geralmente no pátio do Grupo Escolar e eram obrigatórias a todos os inscritos. Realizavam marchas, evoluções, ginástica sueca, formação de pirâmides, entonação de hinos e poesias patrióticas, entre outras.
A cerimônia de juramento da 1ª turma de escoteiros ocorreu em 13 de maio de 1918, no campo do “Sport Club Internacional”, no qual compareceu grandioso público. O batalhão de escoteiros adentrou ao recinto acompanhado de um grupo da Força Pública local, sendo precedidos por representantes da Sociedade de Cultura Infantil, Sociedade Syria, Sociedade Italiana e das colônias portuguesa e espanhola, todos com seus estandartes e bandeiras das respectivas nações. Estavam presentes também diversos oficiais da Guarda Nacional, com seu comandante, Cel. Eduardo Pereira.
Vários oradores fizeram uso da palavra, acontecendo em seguida a entrega do pavilhão nacional por uma comissão de senhoritas e por fim, os escoteiros entoaram o Hino Nacional e executaram diversas lições de exercício militar. Toda a solenidade foi abrilhantada pelas duas corporações musicais locais: a ‘Lyra Bebedourense” e a “Banda Internacional”.
Em 1922, a Comissão Regional contabilizava 150 escoteiros uniformizados e tinha expectativa de aumentar em mais 100 participantes no decorrer do ano. No ano seguinte, um grupo de 54 escoteiros bebedourenses participou de uma excursão para a cidade de Jaboticabal, em retribuição à visita feita anteriormente pela corporação do vizinho município. A viagem foi feita em carro reservado da Cia. Paulista, sendo recebidos na estação daquela cidade pelo batalhão de escoteiros e do Ginásio São Luíz, todos seguindo em desfile com suas fanfarras em direção ao centro. A programação incluiu visita ao Grupo Escolar e ao Ginásio São Luiz e sessão cinematográfica no “Polytheama”.
O período entre 1921 e 1924 é considerado o auge do escotismo no estado de São Paulo quando, durante a gestão de Guilherme Kuhlmann na Diretoria de Instrução Pública, passou a ser atividade obrigatória em todas as escolas paulistas. Após este período, o escotismo vinculado às escolas teve continuidade por mais algumas décadas, até que foi descontinuado.
Em décadas mais recentes e por iniciativa de instituições civis, foram fundados outros grupos de escoteiros em Bebedouro, seguindo os princípios difundidos por Baden-Powell, mas sem vinculação com o sistema escolar, como era o escotismo das primeiras décadas do século passado.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição 10.816, de sábado a terça-feira, 27 a 30 de janeiro de 2024