Durante os anos de Ensino Fundamental, o menino Jim Kwik teve um acidente grave, com um trauma de crânio que lhe causou sequelas de dificuldades de aprendizado: não conseguia manter o foco nas aulas e nas lições, aprendia com dificuldade e sua memória também era falha. Ele demorou três anos a mais que seus colegas para se alfabetizar. Um dia, uma professora de sua escola se referiu a ele como “o menino com o cérebro quebrado”. As pessoas pensam que as crianças não entendem e esquecem. Mas elas entendem e não esquecem esse tipo de conversa.
Para melhorar a sua capacidade de leitura, Jim começou a ler gibis dos X-Men. A identificação era imediata: crianças que eram diferentes e por isso, estigmatizadas e rejeitadas, eram acolhidas na escola do professor Xavier (de onde deriva o nome X-Men, os homens do Professor Xavier) e onde as causas de sua exclusão acabavam virando seus superpoderes. Jim Kwik leu que a escola dos X-Men ficava em sua cidade, o condado de Westchester, Nova York, e passava horas andando com sua bicicleta, tentando encontrar o professor Xavier. Isso foi mais uma decepção em sua infância. A escola só existia nos gibis.
Jim Kwik não sabia, mas no seu futuro ele iria cumprir a mesma tarefa dos X-Men: transformar a sua ferida em um superpoder. Quando estava na faculdade, continuava indo mal, pensando em desistir. Um amigo o convidou para passar um feriado com seus pais. O pai de seu amigo percebeu sua angústia e vontade de desistir. Foi na prateleira e pegou livros de auto-desenvolvimento e mentalização. Além desses livros, esse momento marcou um ponto de virada para o garoto: ele não era o menino do cérebro quebrado, seu cérebro era um supercomputador que podia e devia ser reprogramado. Só que isso leva tempo e demanda esforço e repetição.
O rapaz ficou apaixonado por uma ideia que mudou a trajetória de sua vida: as escolas ensinam o que aprender e não, como aprender. Ele começou a estudar como aprender. O principal insight que abriu muitos caminhos foi que o aprendizado é um ato ativo, não um engolir passivo de informações. Nosso modelo de educação vem do século XVIII e visava criar força de trabalho em escala, com capacidade de repetição de tarefas e aprendizado passivo. Jim Kwik transformou seu aprendizado em um processo ativo. Para isso, desenvolveu seus três Ms: Mindset, Método e Motivação. Quem trabalha com qualquer grupo, não só de alunos, mas grupos de trabalho ou de gestão de projetos sabe a dificuldade que é implantar um sistema como esse.
O Mindset é a mentalidade. Acho que a mentalidade mais difícil de implantar é a que abriu todos os caminhos para Jim: uma mentalidade de Desenvolvimento. O seu cérebro pode ser treinado para se desenvolver. Tem um potencial imenso e normalmente pouco utilizado.
E aqui vai uma opinião deste que lhes escreve: a mentalidade é de tolerar e mesmo se alimentar dos erros como forma de aprendizagem. Temos gerações de pais apavorados e com medo de traumatizar os filhos. Isto tem criado, como tenho repetido em meus artigos, gerações de jovens fragilizados, que não têm método ou entendimento da resolução de problemas. Daí, passamos para os itens mais difíceis da lista: o Método e a Motivação. Para ter um, tem que ter o outro. A motivação para Jim Kwik era deixar de ser o menino do cérebro quebrado. Hoje, ele é um treinador das habilidades que lhe faltavam na escola: Foco, Memória, capacidade de Aprendizado. O método é aprender como se você fosse ensinar para alguém aquela matéria. Aprender a partir do compreender. Isso pode transformar sua dificuldade em um superpoder. Foi exatamente o que transformou o menino do cérebro quebrado no treinador de supercérebros.
Hoje, ele ganha fortunas ensinando o óbvio: para chegar em qualquer lugar, é preciso ter Motivação em enfrentar suas dificuldades. Método para saber fazer perguntas, e as perguntas levam ao entendimento. E Mindset em que você pode treinar seu cérebro para desenvolver habilidades e abrir caminhos para seu futuro.
E você? Está pronto para virar um X-Men?
(Colaboração de Marco Antonio Spinelli, médico, com mestrado em psiquiatria pela Universidade São Paulo, psicoterapeuta de orientação junguiana e autor do livro Stress – o coelho de Alice tem sempre muita press).
Publicado na edição 10.760, quarta, quinta e sexta-feira, 31 de maio, 1º e 2 de junho de 2023