
O platô Chajnantor faz parte da geografia mais seca do planeta. Situado no deserto do Atacama, norte do Chile, o platô está a mais de 5 mil metros de altitude e por inúmeras vezes já foi cenário de filmes de ficção científica que retratam a aridez marciana. Seu índice pluviométrico não passa dos 100 mm por ano (para se ter ideia, a região amazônica possui índice que chega a 3.000 mm por ano) e o ar ali é muito rarefeito, dado que 40% da atmosfera terrestre estão abaixo daquele nível.
Toda essa singularidade climática fez da região o local ideal para se construir o maior centro de observação astronômica realizada pelo homem no planeta. De nome singelo, o Alma – Atacama Large Millimeter/submillimeter Array – é um radiotelescópio composto por 66 antenas de rádio que podem ser sincronizadas para funcionar como um único superradiotelescópio gigante de 16 quilômetros de diâmetro, capaz de vislumbrar uma imagem nítida de um caminhão na Lua.
Empreendimento invejável
Inaugurado em março de 2013 a um custo de US$1,4 bilhão, o Alma recebeu verbas de três grandes sócios: a Europa, por meio do Observatório Europeu do Sul, investiu 37,5%; os Estados Unidos, através do Observatório Nacional de Radioastronomia, contribuíram também com 37,5%; e o grupo asiático, formado por Japão e Taiwan, participou com 20%. O Brasil, se confirmar a adesão, fará parte do grupo da Europa, juntamente com 14 países do velho mundo.
Além do gigantismo do valor, o Alma também é gigante em tamanho. São 54 antenas com 12 metros, pesando cerca de 100 toneladas cada. Aliadas a elas, um outro grupo de 12 antenas com 7 metros de diâmetro fecha o conjunto que utiliza a técnica de interferometria (sobreposição de duas ou mais ondas para criar uma nova e diferente onda) para realizar as observações do espaço. Completando o empreendimento, construiu-se um supercomputador que fica ao lado das antenas e é capaz de processar informações na forma equivalente a 3 milhões de laptops comuns.
O que ninguém conseguiu ver
Estudar a composição química e física das antigas galáxias do universo é um dos grandes desafios do Alma. A luz que vem dessas nuvens frias, as quais possuem temperatura apenas alguns graus acima do zero absoluto, nos chega em um espectro invisível a olho nu, mas facilmente identificadas pela tecnologia desse radiotelescópio. Aliado a esse desafio, o Alma também tentará identificar a presença de moléculas de água e açúcar que costumam estar associadas à forma de vida que conhecemos. No futuro, com toda a plataforma em funcionamento, se prevê que o Alma será capaz de detectar a matéria escura e ainda misteriosa que representa cerca de um quarto do Universo.
Desde setembro de 2011 o radiotelescópio vem produzindo dados para inúmeras pesquisas científicas. As primeiras publicações com esses dados datam de 2012 e chegaram ao público pelas páginas da revista Nature. Um dos exemplos foi o estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia, Estados Unidos, que mediram a distância entre a Terra e 26 galáxias muito distantes, as quais imaginávamos estar mais perto do apontado nos resultados. Ainda nesse estudo também detectaram moléculas de água, diga-se de passagem, a evidência mais longínqua de água que conseguimos identificar até hoje.
O Alma, com a sua grandiosa eloqüência tecnológica, é mais um dos caminhos que o homem constrói para buscar as origens cósmicas do Universo, e quem sabe, amenizar a sua ansiedade em entender as próprias origens.
Para quem quiser mais informações poderá acessar o site do Observatório Europeu do SUL (ESO) no endereço http://www.eso.org/public/brazil/teles-instr/alma/.
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Leia mais na edição nº 9871, dos dias 30 e 31 de julho de 2015.