Os primórdios do teatro em Bebedouro

José Pedro Toniosso

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Detalhes arquitetônicos da fachada original do Theatro Rio Branco, inaugurado em 1913 e por várias décadas o principal palco das apresentações teatrais na cidade de Bebedouro. Foto: Acervo do autor

Os primeiros registros sobre o teatro em Bebedouro remontam à criação de um grupo amador denominado “Recreio Dramático Familiar”, nos idos de 1904, sendo que sua primeira diretoria foi assim formada por Manoel Ignácio da Motta Pacheco, Lupércio de Magalhães e Antônio Bastos. O grupo fez várias apresentações de duas peças selecionadas: o drama em três atos “As nódoas de sangue”, e a comédia “Judas no Sábado de Aleluia”, sendo os textos extraídos de fascículos editados em Portugal e adquiridos na Livraria Teixeira, em São Paulo.

Em dezembro de 1908, mesmo sem possuir um palco, a cidade recebeu a afamada “Companhia Dramática Carrara” que se apresentou de forma improvisada em um antigo armazém que fora desativado. O representante da companhia, Luiz Carrara, abriu uma lista de assinaturas subscritas a fim de viabilizar financeiramente a realização dos espetáculos, que incluiu dramas como “Deus e Natureza”, “O poder do ouro”, e “O erro judiciário” e a comédia Sarilho.

Também em 1908 aconteceu a fundação de mais um grupo de teatro amador, que recebeu o nome de “Sociedade Dramática Cel. João Manoel”, sendo a primeira diretoria composta por Cel. Alexandre Pulino, Prof. João Alves da Silva, Cap. Custódio Teixeira Pinto, Ten. Nestor Candido de Matos, Antônio Ribeiro de Souza Barata. Consta que no ato da fundação o patrono, Cel. João Manoel, disponibilizou um terreno para a edificação de um teatro, fato que, no entanto, não se concretizou.

Anos depois, em 1910, foi fundado o “Grupo Dramático de Bebedouro”, dirigido pelo Major Ernesto de Carvalho e Cap. Custódio Teixeira Pinto. A primeira apresentação do grupo ocorreu na inauguração do primeiro palco da cidade, no “Bijou Theatre”, em setembro de 1910. A primeira parte do espetáculo incluiu declamações, monólogos e a peça infantil “O Poeta da Saudade”, interpretada pelas crianças Anita Teixeira Pinto e Júlio Foschini. Após o intervalo, foi apresentada a peça dramática “Uma Sentença”, interpretada por Nenê Ransmussen, Prof. Fernando Viana, Fausto Pereira, J. Santos e Sinhô Lima.

Após a inauguração do palco do “Bijou Theatre”, tornou-se mais frequente a realização de espetáculos teatrais, tanto amadores como profissionais. No ano seguinte, por exemplo, houve o retorno da “Cia. Carrara”, que na ocasião anterior permanecera por quase um mês na cidade. Desta vez, após a abertura de uma lista de subscrições, aconteceu a estreia com estrondoso sucesso, foram acomodadas no “Bijou” cerca de trezentas cadeiras na plateia e mais trezentas na geral, sendo necessária a suspensão das vendas de entradas. O elenco da “Cia. Carrara” era formado por 22 artistas, tendo em seu repertório de peças, sucessos de autores como Arthur Rocha e Arthur Azevedo.

Outro grupo teatral amador que se formou foi o denominado “Grupo Dramático Filhos do Progresso”, fundado por Tibúrcio Gonçalves Filho em 14 de maio de 1914, tendo apresentado com sucesso duas peças no Salão Martinelli. No mesmo ano a professora Maria Benedicta Carlini organizou o “Grupo Teatral Paulista”, com a participação das crianças dos grupos escolares, apresentando em julho o primeiro espetáculo no palco do “Theatro Rio Branco”.

Após sua inauguração, em janeiro de 1913, o “Rio Branco” dedicou parte significativa de sua programação para a apresentação de companhias teatrais e musicais de reconhecido sucesso. Em 1915, por exemplo, apresentou dois concertos, duas óperas líricas e dez operetas, entre outros espetáculos.

Nas décadas subsequentes, o “Rio Branco” manteve-se como o principal local para as apresentações das companhias visitantes e bebedourenses. No entanto, no final da década de 1960 o estabelecimento passou por uma grande reforma que, entre outras mudanças, retirou o palco para a instalação de uma nova tela de projeção, tornando-o exclusivamente uma sala de cinema.

Entre as décadas de 1970 e 1990, com a inexistência de uma sala própria, os espetáculos teatrais passaram a ser realizados principalmente no auditório da Escola Estadual Dr. Paraíso Cavalcanti ou do Colégio Anjo da Guarda. Somente em 1996, após o fechamento definitivo do Cine Rio Branco e após amplas reformas em seu edifício, foi instalado no local o “Teatro Municipal Maurício Alves de Oliveira Júnior”, denominação que homenageou um defensor do teatro bebedourense no passado.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense. www.bebedourohistoriaememoria.com.br).

Publicado na edição 10.901, de sábado a sexta-feira, 1º a 7 de fevereiro de 2025 – Ano 100