No decorrer da década de 1920, no embalo dos recursos gerados pela cafeicultura, construções de várias tendências arquitetônicas foram edificadas na região central de Bebedouro, modificando significativamente a paisagem urbana da época.
Entre elas, talvez a mais suntuosa, foi projetada para ser erguida em um dos melhores pontos da cidade, na esquina das ruas Alfredo Elis (atual Oscar Werneck) e São João, onde até então se localizava o Armazém de Salomão Daud, um imóvel simples cuja negociação chegou à casa dos 105 contos de réis.
Sua construção foi enaltecida pela imprensa, conforme publicado em maio de 1929, pela Gazeta de Bebedouro, sob o título “Arranha-céu em Bebedouro”, informando sobre o belo palacete mandado erguer pelo “abastado fazendeiro” Caetano Zaccarelli: “O edifício, que será de dois andares, além do andar térreo, foi empreitado pelo conhecido e apreciado constructor de obras, snr. Henrique de Carli, pela respeitável importância de quatrocentos e muitos contos de réis, sendo o andar térreo destinado a grandes lojas. Conforme nos informaram, é provável que o primeiro andar seja occupado para a séde da nossa querida ‘A. A. Internacional’.”
A Gazeta informava que a planta era de autoria do engenheiro bebedourense João Alves de Toledo, autor de várias obras na cidade, enquanto que o empreiteiro, Henrique de Carli, fora responsável pelo erguimento do Ginásio Municipal de Bebedouro, além de construções grandiosas realizadas em Jaboticabal.
A imponência do projeto mereceu destaque no Correio Paulistano, que apresentou mais detalhes sobre o prédio, cujos alicerces já estavam sendo erguidos, com previsão de conclusão em dezoito meses.
“No pavimento térreo, serão instaladas diversas lojas, para o que haverá salas amplas e departamentos annexos, além de grande salão para bar e confeitaria. O pavimento superior, no primeiro plano, destina-se à moradia da família Zaccarelli e instalação de escriptórios comerciais e forenses, etc. No segundo plano, installar-se-ão o Club Internacional, para o que projeto dá as seguintes acomodações: grande salão nobre, sala de palestra, departamentos para bar e fumoir, hall, salas de jogos, toallette para senhoras, secretaria, sala de bilhar, cozinha, etc.
Observa-se que o projeto apresentado nos jornais não corresponde ao que foi edificado, pois além do térreo, o prédio possui somente mais um andar. De fato, foram feitos inicialmente dois projetos de fachada, sendo que ambos incluiam o térreo e mais dois andares, no estilo eclético neo-renascentista. Houve, portanto, a escolha de um terceiro projeto, talvez considerado mais moderno.
No imóvel construído, além da grandiosidade, pode se ressaltar o estilo arquitetônico empregado, bastante antenado com as tendências construtivas da época, caracterizada pelo ecletismo que incluiu o emprego de elementos neocoloniais. Na fachada, por exemplo, se destacam entre os componentes ornamentais, frontões barrocos em forma de alça, guarda corpos em meia lua superposta, pináculos e cornijas. No frontispício, em relevo, as iniciais ‘C.Z.’, de Caetano Zaccarelli.
Após a conclusão das obras, foram instalados no andar térreo os seguintes estabelecimentos: Bar do Amândio, Casa Rádio, Barbearia de Diorcílio Silveira e Casa e Barbearia Froldi. O andar superior tornou-se a sede do Nosso Club, fundado em 24 de junho de 1931, que anos depois, em novo endereço, tornaria-se o Bebedouro Clube.
Nos anos seguintes, o local foi palco de diversos eventos, como a constituição da Associação Comercial, a fundação do Rotary Club, a criação da Rádio Bebedouro e a formação da Sociedade Paulista de Fruticultura.
Em 1957 o prédio, que então pertencia a Aida Caldeira Paolielo, Célia Paolielo Junqueira e João Batista Paolielo, foi adquirido pela Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bebedouro. Posteriormente, o andar térreo foi vendido e estabelecimentos de outros segmentos ali se instalaram, enquanto que a Aciab permaneceu como proprietária do andar superior.
Breve biografia de Caetano Zaccarelli: Nascido na região da Reggio Emilia, na Itália, chegou com a família ao Brasil, aos 14 anos, em 1888, desembarcando no Rio de Janeiro, de onde seguiram para a fazenda de Martinico Prado, em Ribeirão Preto. Trabalhou na lavoura do café e conseguiu adquirir as primeiras terras, vindo para Bebedouro, em 1903, onde se dedicou à cafeicultura, tornando-se um dos maiores produtores do município. Faleceu em 1942, sem deixar filhos.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição 10.768, sábado a terça-feira, 1º a 4 de julho de 2023 – Ano 99