
Uma criança que tenta corromper outra é indício de um mundo que está falindo.
A Gazeta está fazendo um suplemento especial para o Natal. Numa das entrevistas ouvi uma história que dá uma pista de como o mundo está meio sem rumo. Escutei de um casal a história que aconteceu em um campeonato escolar. Um menino de apenas nove anos ofereceu dinheiro para outro garoto mais pobre que joga no time adversário para que ele perdesse o jogo. Reforço a idade: todos têm apenas nove anos.
Infelizmente ninguém me disse se o ato de corrupção juvenil foi consumado, mas só o fato de uma criança propor algo parecido deixa qualquer um estarrecido.
Numa passagem bíblica, Jesus diz que deveríamos ter a inocência de uma criança para poder entrar no céu. Mas será que esta regra valeria para os dias de hoje?
De qualquer forma, não é culpa das crianças. Os pais devem responder por este tipo de comportamento. Se eles não ensinaram a corrupção, ainda assim são culpados por permitirem os filhos aprenderem este tipo de coisa.
Um grupo de empresários que aceitam dar comissão de 10% para um prefeito, em um suposto esquema de fraude em licitações não nasce do nada. Qual o tipo de educação que cada um recebeu em casa? Os pais não eram corruptos, mas puniram severamente estas pessoas quando cometiam pequenas malandragens ou mentiam na infância?
Todo mundo fala em mudar o mundo, melhorar a cidade, o estado, o país. Enchem o peito para cobrar punição moral aos condenados do Mensalão. Mas na vida particular têm comportamento ético? Ensinam valores e princípios para os filhos?
Sei que alguns leitores até estranham que o foco da Coluna Preto no Branco tem sido a educação dos filhos, nas últimas semanas. Mas ensinar comportamento para as crianças é o começo da tarefa para mudar o mundo.
Eu não fui santo quando era criança. Aos nove anos, furtava da geladeira da minha mãe latas de leite condensado. Um dia, cansada da minha malandragem, ela comprou duas latas inteiras e me obrigou a tomar tudo de uma vez ou eu levaria uma surra fenomenal de cinta. Hoje em dia, nem chego perto de leite condensado. Hoje ela correria o risco de ser denunciada ao Conselho Tutelar por maus tratos, mas não acho que ela tenha feito errado.
Se uma criança de nove anos tenta corromper outra apenas por uma partida de futebol, quando for adulto será capaz de coisa bem pior. Cuidar dos filhos também é política.
(Colaboração de Marco Antônio dos Santos, jornalista).
Publicado na edição n° 9485, dos dias 11 e 12 de dezembro de 2012.