Rivalidade além das quatro linhas

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A expectativa foi mais que superada no jogo entre Real Madri e Barcelona, válido pelo Campeonato Espanhol, que depois de 29 rodadas tem o Atlético de Madri na liderança, com 70 pontos, Real Madri em segundo, com os mesmos 70, e em terceiro o Barcelona, que após a vitória em cima do seu maior rival, agora conta com 69 pontos.
O jogo foi eletrizante, do início ao fim. Messi, para variar, participou dos 4 gols do Barcelona, dando passe para um e marcando os outros três. Cristiano Ronaldo uma vez e Benzema duas fizeram os tentos do Real Madri.
Mas esse jogo é mais que um jogo. A rivalidade não se limita às quatro linhas. Os dois clubes, além da briga política, também lutam entre si para serem o maior do mundo, e não só jogando bola. Lutam para ter os jogadores mais caros, estádios mais modernos, recordes atrás de recordes, e isso consome milhões de euros anuais das duas agremiações.
Historicamente a rivalidade se acirrou também em virtude do Real Madrid representar psicologicamente a realeza e o poder centralizador de Madrid e o Barcelona representar a cultura, o povo catalão e o seu desejo de autodeterminação, com todas as variáveis que pode haver nesse desejo.
Isso explica, de certa forma, a intensidade desta rivalidade, pois diferente da maioria dos países onde os principais clássicos envolvem clubes da mesma cidade, esse clássico envolve filosofias de entendimento políticas distintas e contrárias, e talvez por isto, seja o clássico de maior rivalidade da Europa, e talvez no mundo, e os dois clubes se odeiam mais do que aos rivais de suas próprias cidades, no caso o Atlético de Madrid (Real Madrid) e o Espanyol (Barcelona).
Segundo algumas interpretações*, o ditador Francisco Franco tolerava as manifestações pró-Catalunha nas partidas do Barcelona, onde costuma ser cantado o hino da Catalunha e desfraldadas diversas bandeiras catalãs, pois seria mais fácil controlar os manifestantes reunidos em um estádio de futebol do que espalhados pelas ruas.
As animosidades, entretanto, só se incendiaram após Alfredo di Stéfano, contratado em 1953 pelo Barcelona, assinar polemicamente com o Real, em decadência, que logo teria anos de ouro e conquistas com o jogador argentino.
A primeira partida entre FC Barcelona e Real Madrid CF, foi disputada no dia 13 de maio de 1902 nas semi-finais da antiga Copa de la Coronación, precedente da atual Copa do Rei e o Barcelona venceu este jogo por 3 a 1.
Em 1968, após polêmica vitória do Barcelona por 1 a 0 em uma final de Copa no Santiago Bernabéu, os torcedores atiraram garrafas e diversos objetos no gramado, causando tanto tumulto que desde então foram proibidas vendas de garrafas nos estádios espanhóis.
Pouco mais de trinta anos depois, foi a vez da torcida do Barça atirar objetos para o campo; o motivo era a presença de Luís Figo no Camp Nou. O português, quando jogador do Barcelona, tornara-se um ídolo para os torcedores, que passaram a detestá-lo quando ele se transferiu para o arquirrival em 2000. Entre os objetos encontrou-se até a cabeça de um porco.
Estes são apenas alguns incidentes dos muitos registrados na intensa história deste clássico, que não se limita apenas as quatro linhas.

Publicado na edição nº 9674, dos dias 25 e 26 de março de 2014.