Em meados do ano de 1909, a pacata cidade de Bebedouro, então com cerca de 4 mil habitantes, recebeu uma alvissareira notícia: pela primeira vez em sua história os bebedourenses teriam a honra de acolher um bispo, sendo que na época a única paróquia existente, dedicada à São João Batista, pertencia à diocese de São Carlos do Pinhal, que fora criada em 7 de junho de 1908.
Tendo em vista a importância da visita, de população majoritariamente católica, foi formada uma comissão para organizar a recepção e os eventos que seriam realizados nos dias em que o bispo permaneceria na cidade. Ficou definido que o visitante seria hospedado na residência do Cel. João Manoel, enquanto as ruas seriam todas ornamentadas.
Na edição de 4 de julho do ‘Jornal de Bebedouro’ a comissão publicou uma nota dirigida aos bebedourenses: “A commissão abaixo assignada, convida o povo desta cidade para ir encorporado à estação, no dia 9 do corrente, às 5 horas da tarde, afim de esperar o Exmo. Revdm. Sr. D. José M. Homem de Mello, Bispo de nossa Diocese. Sendo a primeira vez que esta cidade é distinguida com a visita de tão alto dignatário da egreja, os abaixo assignados esperam que a população preste ao ilustre prelado uma solemne homenagem”
Liderada pelo pároco, padre Francisco Garaude, a comissão era formada por mais 21 pessoas, todas do sexo masculino, a maioria possuidora de patente da Guarda Nacional: Cel. João Manoel, Cel. Valêncio Augusto de Barros, Cel. Abilio Manoel, Cel. Alexandre Pulino, Cel. Motta Pacheco, Cap. Joaquim Antônio de Lima, Cap. Luiz Carlos de Arruda Cardoso, Cap. Francisco Pedro de Carvalho, Cap. Manoel Fragoas Ogando, Cap. Domingos Paschoal, Cap. Domingos Gomes. Cap. Ezechias Lemos de Toledo, Major Joaquim de Souza Lima, Major Urbino Guimarães, Dr. Francisco da Gama Spinola e Castro, Dr. Antônio Cotrin, Pharmacêutico João Pedro Antunes, Tibúrcio Pereira Gonçalves, João Pedro de Jesus, Elias Madi, Luiz Gomes Areias.
No dia da chegada do bispo, 9 de julho, uma sexta-feira, conforme a imprensa, ‘era deslumbrante o aspecto que se apresentava a cidade, que se vestira de galas festivas’. ‘O repicar festivo dos sinos, o espoucar de inúmeros foguetes, o movimento desusado das ruas, tudo dava às festas desse dia pompa extraordinária.’
Na estação ferroviária, na chegada do trem, às 17h, o bispo foi recebido por duas bandas de música, que tocaram diversas peças. Conduzido pelos membros da comissão e acompanhado por grande massa popular, o visitante foi conduzido até a escadaria. Do alto desta, o juiz de direito da comarca, Dr. Anhaia de Melo, proferiu eloquente discurso, saudando o ilustre prelado em nome do povo católico da cidade. Na sequência, todos seguiram em cortejo pela rua Prudente de Moraes até a casa do Cel. João Manoel, onde o Cel. Motta Pacheco fez novo discurso.
Por conseguinte, às 20h, foi servido um grandioso banquete, constituído de fino cardápio, vinhos e champagne, ocasião em que o Padre Garaude fez uso da palavra, agradecendo ao bispo pela presença entre os bebedourenses. Detalhe: com mais de 30 talheres, todos os participantes do repasto eram do sexo masculino, incluindo os membros da comissão e convidados.
Inicialmente, a permanência do bispo se estenderia por vários dias, porém, em decorrência da propagação de vários casos da doença da varíola, viu-se por bem reduzir o período da visita e retirou-se na manhã do domingo, dia 11, procurando evitar aglomerações na cidade, conforme orientações profiláticas.
Ainda na condição de Bispo de São Carlos, D. José Marcondes Homem de Mello esteve novamente em Bebedouro em 24 de junho de 1922, quando realizou a consagração do altar-mor da nova Igreja Matriz de São João Batista, cujas obras ainda não estavam finalizadas. Observa-se que quando ocorreu a primeira visita do bispo, em 1909, a Matriz ainda funcionava no antigo templo, que posteriormente seria demolido.
Em 25 de janeiro de 1929, por desmembramento da diocese de São Carlos, ocorreu a criação da diocese de Jaboticabal, à qual passou a pertencer a paróquia de Bebedouro. Nas décadas seguintes, em decorrência da proximidade e das facilidades de transporte, tornaram-se recorrentes as visitas do bispo diocesano à paróquia local, assim como às outras que posteriormente foram criadas.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição 10.883, de sábado a terça-feira, 26 a 29 de outubro de 2024 – Ano 100