12 anos de escravidão, 500 anos de reflexão

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Concorrente ao Oscar 2014, filme deve ser assistido por todos para entender o período histórico.

Dia 2 de março, cerimônia de entrega do Oscar 2014, poderá não escolher como o melhor filme “12 anos de Escravidão”, mas quem assiste, percebe que ele já vale pelo valor histórico, ao relatar a vida do músico Solomon Northup, nascido livre em Nova York, clandestinamente transformado em escravo por 12 anos.
Na interpretação brilhante de Chiwetel Ejiofor, o personagem cai numa cilada, de falsa proposta de trabalho em Washington, de onde é levado acorrentado para o estado da Geórgia. É bom citar que no século XIX, antes da abolição da escravatura, nos EUA, nos estados do norte, todos homens eram livres, mas no sul, a liberdade era direito apenas de brancos.
Destaque na história para o agricultor e proprietário de escravo, interpretado por Michael Fassbender, que parece ter lido livros dos historiadores brasileiros Sérgio Buarque de Hollanda e Clovis Moura para recriar o comportamento da época: um homem cruel, mas sem esta convicção, porque sua interpretação da Bíblia lhe permite agir como bem quiser com sua propriedade: homens e mulheres.
Cena forte é a venda de escravo, muito diferente dos filmes anteriores. O comerciante trata as pessoas, homens, mulheres e até crianças, como animais de pet shop. Enfatiza raça, ausência de doença e as qualidades de cada um. Questionado sobre seus sentimentos ao separar mãe de filho, ele diz que o ofício o impede de tê-los.
O mais interessante é que o herói da história, Solomon, rebatizado no comércio de escravo por Platt, aparentemente adota postura covarde e omissa com relação ao sofrimento das pessoas ao seu redor. Ele quer apenas sobreviver.
Nesta estratégia, ele finge até ser menos instruído do que é, porque negros que sabem ler e escrever eram mortos. Interessante dado para quem é contra cotas nas universidades. Ações afirmativas, nos EUA ou no Brasil, são a justa compensação para quem foi forçado a não aprender.
Enfim, também assisti Gravidade, outro concorrente ao Oscar 2013, na categoria melhor filme. O roteiro é uma ficção científica sobre uma astronauta, lançada ao espaço com a destruição de sua nave e que de forma fantástica, consegue entrar em outra e sobreviver. É outra boa dica, e pode até levar a estatueta.
Mas a trajetória do cinema é cheia de exemplos de boas histórias que não ganharam o Oscar, mas tornaram-se clássicos. Este é o caminho de “12 anos de Escravidão”, que deve ser comentado pelas próximas décadas até em sala de aula.

Publicado na edição nº 9648, dos dias 21 e 22 de janeiro de 2014.