Recentemente a mídia no mundo deu destaque especial para o descobrimento de um sistema solar distante da terra 40 anos-luz, contendo uma estrela anã-vermelha, a Trappist-1, e sete planetas girando em sua órbita. Essa rápida e importante abertura para a ciência astronômica adveio das semelhanças apuradas entre os planetas desse sistema e a Terra. No campo das possibilidades, a Agência Espacial Americana (NASA) afirmou que alguns dos planetas podem abrigar condições para a existência de vida.
Há muito tempo ouvimos notícias sobre exoplanetas descobertos no universo afora, mas foi a primeira vez que um sistema solar com vários planetas e dimensões semelhantes à da Terra é identificado. Por ironia do destino essa descoberta coube a um vovozinho da astronomia, o telescópio Spitzer, lançado ao espaço em 2003 a partir do Cabo Canaveral na Florida.
Digo vovozinho porque a missão que contemplou o Spitzer tinha vida útil prevista para 2,5 anos, mas como outros telescópios espaciais, em especial o Hubble, sua vida útil foi estendida e ainda hoje consegue fazer descobertas fundamentais para um melhor entendimento do universo e suas origens.
Grandes observatórios espaciais
Com massa de quase uma tonelada, o telescópio Spitzer consegue rastrear o universo através da radiação infravermelha – calor, no dito popular – que os corpos celestes emitem. Essa característica é fundamental para furar o bloqueio das nuvens de gás e de poeira estelar que povoam grandes porções do espaço e impedem a passagem da luz visível.
Como ele, a NASA já lançou ao espaço outros três telescópios espaciais que fazem parte de um programa denominado Programa Astronômico de Pesquisa das Origens, cujo objetivo principal é compreender as origens do universo e a formação dos objetos cósmicos. Cada telescópio trabalha com um comprimento de onda: o Hubble no espectro da luz visível; o Chandra com raios-X; e o Compton, especializado em raios gama. Todos eles em conjunto já foram responsáveis por inúmeras descobertas que levaram o homem a entender um pouco melhor o universo em que vive, embora ainda existam questões cruciais em aberto.
Por isso a pesquisa sobre o universo não para. Em 2018 a NASA pretende enviar ao espaço o substituto do Hubble, o telescópio James Webb, que está sendo construído pela própria Agência Espacial Americana, com apoio das agências européia e canadense.
Foco nas estrelas
A procura por planetas fora do nosso sistema solar ocorre pela observação indireta deles. Os telescópios espaciais em órbita da Terra focam as estrelas por um determinado período e ficam à espreita de ligeiras alterações (diminuição) na intensidade de seu brilho. Se essas alterações respeitarem um padrão de periodicidade e de intensidade, a probabilidade de serem causadas pelo trânsito de um ou mais planetas em órbita é bem grande.
No caso específico da estrela Trappist-1, quem abriu caminho para a descoberta do sistema planetário ali existente foi o telescópio Spitzer, mas quem realizou a observação mais detalhada e de fato confirmou a existência de sete planetas foi o telescópio espacial Kepler que possui equipamento de observação de intensidade do brilho estelar muito mais apurado do que demais telescópios.
Mantendo a casa em ordem
A despeito das descobertas de novos planetas fora do nosso sistema solar, que sem dúvida abre grandes horizontes para o entendimento do universo, não devemos nos esquecer de que a Terra ainda é a nossa única, conhecida e habitável casa. Imagine que um dos planetas orbitando a Trappist-1 fosse tão habitável quanto a Terra: levaríamos 40 anos para chegar lá viajando a velocidade da luz e cerca de 44 milhões de anos viajando em um avião a jato com a tecnologia atual. Impossível, não é?
Portanto, tenhamos consciência, façamos o nosso dever e vamos cuidar de nossa única casa direitinho, pois vamos precisar dela por muito tempo ainda.
Publicado na edição nº 10110, de 30 e 31 de março de 2017.