Nas primeiras décadas do século passado surgiram diversas corporações musicais em Bebedouro, sendo que algumas eram subsidiadas pelo governo municipal e formadas por músicos bebedourenses ou da região.
Os locais de apresentação eram variados, incluindo o histórico coreto localizado no então denominado “Jardim Público”, que corresponde à atual “Praça Barão do Rio Branco”, além de eventos religiosos, cinemas, bailes e festas particulares e em outras ocasiões.
Entre as bandas então existentes, algumas tiveram maior projeção, como a “Banda Philarmônica Sete de Setembro”, “Lyra Bebedourense”, “Euterpe Bebedourense” e “Internacional”. Entre os regentes dos primeiros anos, podem ser citados Francisco Puzzoni, Felipe Pace e Sebastião Viana, entre outros.
Além das citadas, outra banda que ganhou notoriedade foi a “Corporação Musical Democrata”, organizada em 1920, sob a direção do maestro Ubaldo de Abreu. Além das inúmeras apresentações realizadas na cidade, a instituição brilhou em várias localidades vizinhas, para as quais viajava por meio das linhas férreas.
Em dezembro de 1925, por exemplo, a “Democrata” realizou uma excursão para cidade de São Carlos, onde recebeu calorosos aplausos. No final do mesmo mês foi a vez das cidades de Ribeirão Preto e Pedregulho, eventos que receberam ampla cobertura da imprensa local. Fizeram parte da comitiva, os diretores da Banda, Vicente César e Gonçalves Filho.
Conforme publicou o “Jornal de Bebedouro”, a Corporação partiu toda uniformizada na manhã do dia 29, tocando uma marcha ao público presente. Em todas as estações localizadas no trecho entre Bebedouro e Ribeirão Preto, a Banda executou trechos de músicas. Ao chegar à estação ribeirão-pretana encontrou-a repleta de curiosos e executou uma marcha imponente.
Na sequência, executando várias músicas e acompanhada por grande público, a banda foi conduzida à Prefeitura Municipal, onde foi recebida pelo prefeito dr. João Guião. Dirigiram-se então às residências dos juízes da 1ª e 2ª vara, cumprimentando os magistrados. Visitou também a redação dos jornais “A Cidade” e “Diário da Manhã”.
Ainda em Ribeirão Preto, os músicos visitaram as instalações da fábrica da Companhia Cervejaria Paulista, onde degustaram o chopp ali produzido. Conforme a reportagem do Jornal de Bebedouro, após instalarem-se no Hotel Brasil daquela cidade, os músicos se apresentaram na praça Quinze, executando um concerto que incluiu peças como “Rhapsodia portuguesa”; a “Symphonia” do “Cá entre nós”; a fantasia do “Guarany”; e o “Rouxinol”, executado pelo maestro Pedro Pellegrino, na época um jovem de apenas 25 anos que já se destacava entre os componentes daquela corporação.
Na manhã do dia seguinte, a comitiva seguiu para a cidade de Pedregulho em um trem da Cia. Mogyana, sendo recebida por autoridades, pela banda local e grande público, os quais acompanharam a “Democrata” em animado cortejo até o Theatro Central, onde além de vários discursos de acolhida e agradecimento, houve apresentações das duas bandas.
A Corporação Musical permaneceu por sete dias em Pedregulho, tendo participado de vários eventos, com destaque para o concerto executado na praça principal, onde se realizava uma quermesse em prol da associação esportiva local. No programa do concerto, novamente o destaque foi para a execução do “Rouxinol” pelo maestro Pedro Pellegrino. Além desta apresentação especial, os músicos foram recebidos em diversas residências e entidades, participando de almoço, ceia, baile e outros eventos especiais.
A atenção dada pela imprensa a esta excursão realizada pela “Democrata” revela o prestígio que as corporações musicais possuíam no referido período. No entanto, apesar de tanto sucesso, todas tiveram duração efêmera, em decorrência principalmente da falta de recursos para manutenção.
Desta forma, assim como todas as outras, a “Corporação Musical Democrata” também encerrou as atividades e seus componentes se dispersaram, tendo alguns participado de outras bandas, criadas nas décadas seguintes, conduzidas por maestros que se tornaram conhecidos, como Delamagna, Carmino Tardio, Vicente Gomide, Alfredo Ribeiro, A. Nicoletti e Silvio Salata, entre outros.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição 10.876, de sábado a terça-feira, 28 a 30 de setembro e 1º de outubro de 2024 – Ano 100