Dilema prossegue até os dias atuais nos julgamentos da vida.
Em 1961, foi lançado o filme Barrabás, estrelado pelo ator Antonhy Quinn, sobre a vida do criminoso que foi poupado no lugar de Jesus Cristo. Eu assisti na extinta TV Tupi e o enredo ainda permanece na minha memória.
Diferente do que sempre é retratado superficialmente, Barrabás era um guerrilheiro, assim como o apóstolo Pedro. Lutavam para libertar a Judeia ocupada, como agora fazem afegãos e iranianos para tirar os americanos de seus países.
Tanto para a império romano quanto para os EUA, o guerrilheiro é o criminoso, que assassina soldados e deve ser punido com prisão perpétua ou morte.
Do outro lado, Jesus Cristo é ameaça potencial, mesmo em menor grau de dano, porque usa palavras para subverter a população. Tinha demonstrado sua liderança ao entrar em Jerusalém cercado de uma multidão de descontentes. Entretanto, ele incomodou muito mais os chefes religiosos que viviam dos tributos pagos pelo povo ao templo, ao chamá-los de mercenários. Provocou os romanos também ao não demonstrar simpatia pelo império.
Para os romanos, compensava mais matar Barrabás, por isto, Pôncio Pilatos fica estarrecido com a decisão da elite do templo em escolher Jesus para morrer. Detalhe, fato equivocado é mostrar a multidão neste julgamento, porque assim como é hoje, o povo fica afastado dos tribunais. Porém, nos conchavos políticos que fez para se manter no cargo, lavou as mãos e acatou a decisão.
Não há cabimento o Barrabás tresloucado mostrado no filme Paixão, de Mel Gibson. O verdadeiro era consciente e por anos carregou o sentimento de culpa pelo desfecho até se converter ao cristianismo. Com muita reflexão, ele chegou à conclusão que nunca venceria os romanos pelas armas, mas pela denúncia do sistema injusto de dominação, a ponto de terminar crucificado.
Pena que os canais de televisão, mesmo por assinatura, não exibam este filme. Provavelmente optarão por repetir os filmes sobre Jesus, nem todos de boa qualidade. Alguns, de tão ruins, só dá para assistir até o nascimento de Cristo.
(…)
Publicado na edição nº 9682, dos dias 15 16 17 de abril de 2014.