Dá licença que quero fotografar

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Os novos celulares tiram fotos e retiram o senso de ridículo das pessoas.

Manhã de sábado (16), o desentendimento entre dois vendedores ambulantes acaba em facada, na esquina entre as ruas Cel. João Manoel e Antonio Alves de Toledo. Na mesma proporção que ficava suja de sangue a camisa da vitima, aumentava a aglomeração. Três estavam preocupadas em chamar o Corpo de Bombeiros para socorrer a vítima. O restante queria espiar e outros fotografar para depois postar em redes sociais ou compartilhar pelo Whatsapp.
Há poucos dias, o assassinato do jovem Luís Cunha Júnior teve fotos e até vídeo compartilhado pelo Whatsapp e até pelo Facebook. Para terminar com os exemplos, a imagem de jovem que se enforcou em Viradouro, também foi divulgada, mas desta vez por um site de festa.
Com surgimento das redes sociais e dos celulares com câmeras fotográficas aumentou vertiginosamente a visibilidade das desgraças alheias. Todo mundo pensa que é só fotografar, postar, descrever o fato, para tornar-se jornalista.
Em primeiro lugar, os profissionais só fazem imagens para registrar fatos, mas há critérios rígidos na seleção daquilo que pode ser mostrado. Por exemplo, suicídio, não há imagens publicadas, porque há receio que de alguma maneira, isso estimule atos parecidos. Há também as implicações legais, com riscos de processos por danos morais. A decisão de divulgar um fato ou não, surge após discussão entre o repórter, editor e direção do órgão de comunicação.
Quanto ao fato de até crianças fotografarem imagens violentas e compartilharem, entramos no milenar desejo da sociedade por sangue, desde aqueles que lotavam arquibancadas para assistir lutas de gladiadores, até os dias atuais. Há como evitar esse compartilhamento no Facebook, ao denunciar a imagem que rapidamente é bloqueada. É o único recurso que temos contra redução dos padrões morais e até de compaixão da sociedade.

Publicado na edição nº 9734, dos dias 19, e 20 de agosto de 2014.