Manchete publicada na primeira página da Gazeta de Bebedouro, edição de 5 de outubro de 1941. Fonte: Reprodução Gazeta de Bebedouro

Durante as décadas de 1930 e 1940 ocorreram diversas edições da “Festa da Primavera”, evento que mobilizava significativa parcela da sociedade bebedourense, que se empenhava para arrecadar recursos em prol das instituições filantrópicas existentes na época.

As comissões organizadores da Festa procurava inovar todos os anos, buscando oferecer atrações que chamassem a atenção do público nos vários dias de festejos, geralmente realizados na praça Barão do Rio Branco.

Na edição do ano de 1941, a Festa foi realizada no período entre 20 de setembro e 12 de outubro e entre as atrações foram realizados leilões de prendas, concurso de rainha, churrasco, voos panorâmicos, jogos de futebol, diversas barracas e um “Concurso de Robustez Infantil”, inédito em Bebedouro.

Criados na década de 1920, os concursos de robustez infantil surgiram com o objetivo de motivar a profilaxia e promover o saneamento dos corpos e das famílias, protegendo a maternidade e a infância e, desta forma, contribuir para reduzir as altas taxas de mortalidade infantil da época.

O cuidado com as crianças era visto como uma forma de garantir o futuro da nação, pois crianças robustas e saudáveis representavam as esperanças no desenvolvimento do país. Desta forma, os concursos se popularizaram e passaram a ser realizados em cidades de diferentes estados, com muita divulgação e vários patrocinadores.

No caso de Bebedouro, o concurso ocorreu sob o patrocínio da Companhia Nestlé do Brasil e por iniciativa da “Gazeta de Bebedouro”, tendo despertado a atenção dos bebedourenses tão logo foi anunciada sua realização.

O certame era voltado para crianças de 0 a 3 anos, as quais eram agrupadas de acordo com as idades e tipo de alimentação. Para concorreram a vários prêmios, as inscrições deveriam ser feitas no Centro de Saúde até o penúltimo dia da Festa da Primavera, sendo anunciados os vencedores no final da mesma.

Foi constituída uma comissão julgadora de médicos, presidida pelo dr. José Avelino Gurgel de Alencar, médico chefe do Centro de Saúde e constituída pelos drs. Moacyr Deleuse, Plínio Britto, Moacyr Porto, João Cambaúva, João Antônio Stamato, José Evangelista, Ricardo Dias de Toledo e Gerolino de Souza, pertencentes ao corpo clínico da Santa Casa de Misericórdia de Bebedouro, além dos professores de educação física, Izaura Silva e Lauro Stamato.

Houve a inscrição de 51 crianças e conforme anunciado, no dia 12 de outubro ocorreu o encerramento do concurso, com desfile e classificação dos candidatos. Presidido pelo prefeito municipal, Antônio Alves de Toledo, e com a presença da comissão julgadora, grande público acompanhou o certame com curiosidade e encantamento diante da elegância dos pequenos concorrentes.

Após a realização do desfile, foi anunciada a classificação:

– Alimentação Artificial (leite em pó) – Crianças de 0 a 6 meses: 1º lugar, Ana Cristina Tucci; 2º, Heleny Rosa Vieira; 3º, Laércio Moreno. Crianças de 6 a 12 meses: 1º lugar, Celso Antônio Giglio; 2º, Heleny Ferreira; 3º, Sebastião Arruda.

– Alimentação Natural (seio materno) – Crianças de 0 a 6 meses: 1º lugar, Edith Rodrigues; 2o, Álvaro Rodrigues. Crianças de 6 a 18 meses: 1º lugar, Armindo Manoel Barroso; 2º, Luiz Roberto Tavares.

– Índice Geral de Robustez – Crianças de 18 meses a 3 anos: 1º lugar, Sônia Elizabeth de Facio; 2º, Derly Ferreira de Rezende; 3º, Paulo Gustavo Bender.

Prêmio Especial – Flora Cristina Bender.

A cerimônia de premiação ocorreu dias depois na sede da Prefeitura Municipal, com a presença das mães, crianças e convidados, recepcionados pela Corporação Musical Municipal, regida pelo maestro Sílvio Salata. Após os discursos proferidos pelo jornalista Tibúrcio Gonçalves Filho e pelo dr. Gurgel de Alencar, deu-se a entrega dos prêmios, brindes e brinquedos, oferecidos pela Companhia Nestlé, Rotary Club, Gazeta de Bebedouro e outros.

Em sintonia com o propósito original do concurso, em seu discurso dr. Gurgel enalteceu as mães por seu “nobilíssimo papel de construtora da nacionalidade”, “colaboradoras da grandeza do Brasil de amanhã”, merecedoras “das mais vibrantes felicitações” por terem gerado filhos fortes e sadios. Na sociedade da época, o casamento e a maternidade ainda eram as únicas aspirações para muitas mulheres.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).

Publicado na edição 10.864, de sábado a sexta-feira, 10 a 16 de agosto de 2024 – Ano 100