Nos primeiros anos do século passado, novas demandas na área de serviços, inclusive na saúde, fizeram com que surgisse um movimento pela fundação de um hospital em Bebedouro. Em edição de outubro de 1907, o jornal Correio Paulistano informava que “diversos cavalheiros de influência nesta cidade tratam de fundar aqui uma casa de misericórdia.”
No entanto, apesar de alguns encaminhamentos preliminares, foi somente em janeiro de 1911 que houve a constituição de uma comissão, assim formada: Presidente, Dr. Nicanor de Toledo Mello; Secretário, Dr. Gustavo de Souza Meyer; Tesoureiro, Major Joaquim de Souza Lima; Vogal, Cap. José Pinheiro de Azevedo. Na Comissão de Contas, Cel. Eduardo da Silva Pereira, Cel. Conrado Caldeira, Cap. Abílio Manoel e Cap. Vicente Paschoal.
Foi aberta uma lista de subscrição, sendo o Cel. Eduardo da Silva Pereira o primeiro a assinar, destinando a quantia de 2:000$000 (dois contos de réis), no que foi acompanhado por vários outros doadores.
Logo os apelos sensibilizaram a população, sendo publicadas na imprensa local diversas listas com os nomes de centenas de contribuintes. Outra estratégia foi a confecção de “cartões beneficentes”, que eram vendidos pelas crianças e senhoritas aos moradores em geral, possibilitando que, independente da condição social, todos pudessem se envolver com esta causa.
Finalmente, em 1º de abril de 1911, ocorreu o lançamento da pedra fundamental, com a participação de todas as autoridades e grande massa popular, tendo o acompanhamento das bandas de música, “Euterpe Bebedourense” e “Internacional Filarmônica”. Até então, a lista de subscrição totalizava 25:459$200 (vinte e cinco contos e quatrocentos e cinquenta e nove mil e duzentos réis).
Diversos eventos foram organizados em prol das obras, como sessões de filmes, peças teatrais, conferências, monólogos, festivais artísticos e concertos musicais no Bijou Theatre ou no Internacional Cinema; quermesses no Jardim Público; novas listas de subscrição.
O empenho da comunidade foi intenso, cada qual contribuindo da forma que lhe era possível. Houve quem doasse lotes de terras, bilhetes de loteria, produtos agrícolas, Impressionante também a diversidade e a quantidade de produtos oferecidos para os leilões das quermesses realizadas.
Com as obras em andamento, a comissão decidiu pela constituição da Irmandade da Santa Casa, formada a partir de uma assembleia realizada na Câmara Municipal, em 15 de setembro de 1912. Além da aprovação dos estatutos, foram eleitos por aclamação, os seguintes diretores da Irmandade: Provedor, Cel. João Manoel; Vice-Provedor, Cel. Eduardo da Silva Pereira; Tesoureiro, Dr. Nicanor de Toledo Mello; Secretário, Cap. Bartolomeu Prado; Mesários, Cel. João Batista Cardoso, Cel. Cherubin Franco Campos, Dr. Octaviano de Anhaia Mello, Cap. Abílio Alves Marques, Cap. Francisco Lima, Ten. Cel. Severiano do Amaral e Major Conrado Caldeira. Comissão de Contas: Dr. Gustavo Meyer, Ten. Cel. Domingos Paschoal e Maj. Joaquim Otávio de Barros.
Após vários meses de imensos esforços da coletividade, em 1º de janeiro de 1914 ocorreu a inauguração, prestigiada por grande massa popular. No ato solene fizeram parte da mesa o padre Francisco Garaud, drs. Joaquim A. de Siqueira, Pereira de Viveiros e Spínola e Castro, cel. Conrado Caldeira, cap. Abílio Alves Marques, cel. João Manoel, drs. Nicanor de Mello, Paraíso Cavalcanti e José A. de Mello.
Após a inauguração, a Santa Casa passou a funcionar regularmente, tendo o Dr. Francisco D. Paraíso Cavalcanti como o primeiro diretor-clínico, e o Cel. João Manoel, como provedor, logo sucedido na função pelo Cel. Alexandre Pulino, sendo que ambos tiveram ampla colaboração dos bebedourenses para a manutenção do estabelecimento.
Em meados da década de 1920, o Cel. Raul Furquim assumiu a função de provedor e novamente com a ajuda da comunidade, conseguiu dar prosseguimento às atividades do hospital, além de dispender de muitos recursos próprios para viabilizar o funcionamento.
Nos primeiros anos da década seguinte, a Santa Casa passava por muitas dificuldades financeiras e esteve na eminência de encerrar as atividades, quando então, o Cônego Aristides da Silveira Leite foi convidado e aceitou assumir a provedoria, em agosto de 1933. Desta forma, teve início uma nova fase na história da instituição, assunto a ser abordado em outro artigo.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)
Publicado na edição 10.780, sábado a terça-feira, 12 a 15 de agosto de 2023 – Ano 99